21 junho 2007

REPORTAGEM INVESTIGATIVA

ELIANE CANTANHÊDE

Em mais de três horas no aeroporto de Congonhas, anteontem à noite, sem afinal embarcar, tive tempo suficiente para descobrir a tal "elite branca", perversa e inimiga do Lula, do PT, do povo e do próprio país. A perigosa elite que anda de avião!
Nas filas do check-in, do controle do código do cartão de embarque, do detector de metais, dos sanduíches (imensas) e do próprio embarque, a "elite" disfarçava bem. Não me pareceu ameaçadora, e sim gente como a gente: funcionários e funcionárias, empregados e empregadas, empresários e empresárias, profissionais liberais, estudantes, artistas, fotógrafos, pais e mães que dão duro e andam pra lá e pra cá de avião para reuniões, entrevistas, acordos, negócios e shows. Não estavam passeando, nem estavam aí para brincadeira.
Mas, enfim, a ministra do Turismo mandou todo mundo relaxar e gozar e, sinceramente, aquelas milhares de pessoas estavam até bem relaxadas e gozadas. Ninguém exigia "meus direitos", nem xingava o governo nem a mãe de ninguém.
Talvez pela culpa. Os banqueiros e grandes empresários que andam de jatinho estão felizes da vida com o governo, mas os profissionais que têm de se virar nas companhias aéreas se sentem vítimas, mas são vilões. Afinal, andar de avião virou pecado, coisa de rico, desalmado, antipovão. Quanto mais atraso, melhor. Bem feito!
Até 29 de setembro de 2006, tudo ia muito bem, sem atrasos e sem caos. Caiu o Boeing da Gol e tudo mudou. Equipamento? Buraco negro? Nevoeiro? Consoles? Não, apenas inverteram-se todos os papéis: os controladores não controlam e param o país quando bem entendem, o comando da Aeronáutica bate cabeça e não comanda, o ministro da Defesa se defende e viaja, e Lula... bem, lava as mãos.
No mais, isso também mudou: a classe média virou "elite" e "golpista", precisa se purificar...

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