ELIANE CANTANHÊDE
Sabe o que o plenário do Senado parecia ontem à tarde, durante o discurso de renúncia do senador Sibá Machado da presidência do Conselho de Ética? Parecia uma arena, com petistas, tucanos, democratas, peemedebistas etc. no centro, prontos para serem devorados pelos leões - ou pelos próprios erros.
A perplexidade, a humilhação, a vergonha pairavam no ar. Renan Calheiros, o pivô da crise, presidia a sessão. Sibá, a terceira baixa do conselho, discursava, simples, coloquial, um tanto desfocado. E vieram os elogios de praxe, típico nhenhenhém de quando não há o que dizer, só lamentar.
Até que... o senador Jarbas Vasconcelos botou o dedo na ferida, ou nas feridas, com a tarimba de dois mandatos de governador em Pernambuco, a coragem de ex -""autêntico" do velho MDB e a independência de dissidente do atual PMDB. Doeu, mas fez bem.
Ele se referiu ao processo contra Renan como "trapalhada", disse que o Senado está com a imagem "maculada" e indo para o "imponderável". "Como instituição, está-se estrangulando." "Não pode ficar sangrando e, mais do que isso, fedendo." "O Congresso não pode mergulhar na lama." Silêncio, troca de olhares, discreta aprovação.
Quando a situação se deteriorou (há dias, ou semanas?), Jarbas não pediu nem a renúncia nem a cassação de Renan, mas, sim, que ele se afastasse da presidência -""para não nos causar constrangimento, inclusive o que causa hoje, presidindo a sessão".
Sentado à mesa principal, Renan Calheiros, envelhecido, sem energia, tinha cadeiras vazias à sua esquerda e à sua direita a maior parte do tempo. Será que os senadores estavam com vergonha de serem fotografados ao lado dele? O constrangimento era imenso, doído, quase palpável. De Renan e também do Senado, que se transformou em arena porque quis.
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