MELCHIADES FILHO
  À base da simples camaradagem, da troca de favores e  da fama de não descumprir acordos, Renan Calheiros construiu  uma rede de alianças tão extensa  que, para o governo de plantão, é  mais fácil tomá-la emprestada do  que construir outra do zero. 
Como mostrou a maciça vitória na reeleição à presidência, o alagoano tem poucos rivais e nenhum inimigo declarado. É um Marco Maciel sem inibidor de apetites.
O Senado nada tem a ver com a  Câmara. Não costuma abraçar estridências, sobretudo em razão do  currículo de seus integrantes. Ex-governadores, ex-ministros e até  ex-presidente levam à mesa de negociação a expertise de décadas no  Executivo -o lado que importa do  balcão. Ninguém gasta saliva à toa. 
Não é da natureza de uma Casa  com esse perfil lançar aos leões um  dos seus. Corporativismo, complacência e fidalguia se misturam e se  impõem nas situações de crise.  Além disso, como ingrediente extra, mas não menos relevante, há o  dedo em riste do Planalto. 
Foi Renan quem escreveu o primeiro capítulo da parceria com o  PMDB. E foi Renan quem montou o  bunker pró-governo no Senado.  Não que Lula se sinta impelido a  retribuir os favores, como podem  atestar Nelson Jobim e Aldo Rebelo. Mas é importante para ele não  desmanchar por completo a tenda  armada no primeiro mandato e não  correr o risco de um novo Severino. 
Ademais, não é nada mau negociar com um presidente do Senado  pouco arisco, fraco, incapaz de cobrar alto pelos serviços prestados.  Não há desejo declarado de sangue, em resumo. Mas nada que permita ao alagoano dormir tranqüilo. 
A política é uma disputa, muitas  vezes violenta, por espaços. Nesse  sentido, a ascendência de Renan já  é em si um incômodo. A rigor, todos, os mais e os menos próximos,  torcem pela manchete-guilhotina. 
O senador fez bons amigos, mas  os negócios, por aqui, são à parte.
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