11 junho 2007

ATÉ O PRÓXIMO ESCÂNDALO

RUY CASTRO

Outro dia, procurando uma besteira no Google, vi-me numa página da Wikipédia intitulada "Lista de escândalos de corrupção no Brasil". Cliquei e fui ler. Era isso mesmo: uma lista dos escândalos em cada governo, de Geisel para cá.

Que viagem! Recordei nomes de que há muito tinha me esquecido: casos Lutfalla, Atalla e Coroa-Brastel, o escândalo das polonetas, das mordomias, das pedras preciosas. Só não me peça para explicar o que eram -centenas de escândalos depois, só um gênio se lembraria de todos esses acintes que, na época, nos encheram de santa indignação.

Dei-me à pachorra de contar os casos. No governo Geisel (1974-1979), a Wikipédia aponta 10 escândalos; no de Figueiredo (1979-1985), 11. Só isso? Sim, mas, lembre-se, era ditadura, e nada se apurava. Além disso, sob Figueiredo, ela esqueceu a bomba no Riocentro.

No governo Sarney (1985-1990), o recorde negativo: 6 escândalos. Engraçado: na época, tinha-se a sensação de um por dia. Mas a Wikipédia, mais uma vez, pode ter-se distraído, porque omitiu a farsa na concorrência da ferrovia Norte-Sul, desmascarada por Janio de Freitas na Folha.

No governo Collor (1990-1992), as coisas começam a esquentar: 19 escândalos. Parece pouco, mas apenas um caso, "o esquema PC", comporta uns 20 ou 30 embutidos. E o governo Itamar (1992-1994), para quem sente saudades dele, comparece com 31 escândalos.
Adivinhe quem vai para o trono: os governos FHC (1995-2002) e Lula (desde 2003). O primeiro emplacou 44 escândalos; o segundo, 101, e a Wikipédia ainda não incluiu a Operação Xeque-Mate.

Pode-se dizer que nunca se apurou tanto quanto hoje. Certo. Mas ninguém é punido, e vida que segue. Zera-se a pedra e até o próximo escândalo.

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