O termo "crise" já não se  presta a qualificar o que  ocorre nos aeroportos  brasileiros. "Crise" vem do grego  "krísis", palavra que, no vocabulário hipocrático, designava o  "momento decisivo", a partir do  qual o paciente ou bem melhorava ou iria ter com Caronte, o barqueiro que transportava as almas para o reino dos mortos.
Os problemas no setor aéreo se  arrastam já há praticamente nove meses e nada de decisivo  acontece. O paciente nem se cura  nem morre, permanece experimentando as agruras de uma  moléstia crônica e, ao que tudo  indica, além da competência terapêutica do governo.
Desnecessário dizer que nove  meses é tempo suficiente, se não  para recuperar inteiramente o  setor, pelo menos para apresentar um diagnóstico preciso do caso e traçar uma estratégia de tratamento adequada.
O governo, entretanto, não chegou nem perto disso. A Aeronáutica minimiza a obsolescência de seu equipamento, preferindo atribuir a desordem à insubordinação dos controladores. Estes, por seu turno, insuflados por promessas irresponsáveis feitas pelo governo, continuam à vontade para lançar operações-padrão e tentar arrancar concessões na base da chantagem.
Falham também as companhias aéreas. Não são as principais responsáveis pela balbúrdia,  mas têm sido incapazes de desenvolver um sistema para manter seus clientes informados e  para diminuir seu desconforto.
Quanto ao passageiro, que paga pesadas taxas aeroportuárias  para ter um sistema operacional,  depois de amargar horas em filas  sem ter o que comer e beber e  sem saber o que está acontecendo, é instruído pela ministra do  Turismo a "relaxar e gozar".
Num país menos relaxado, tais  fatos fariam o governo se mexer.
21 junho 2007
INCOMPETÊNCIA CRÔNICA
Editorial da Folha de S. Paulo 
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