12 junho 2007

O MACHO E A AMANTE

André Petry

"Se Mônica conta sua versão, o que
ela é? Chantagista. Se fica calada, o que é? A interesseira que vendeu o silêncio a peso de ouro. Se exige que o senador ajude no sustento da filha, o que é? A biscateira que só pensa em dinheiro"

Mônica Veloso é uma mulher fotogênica, mas é mais bonita pessoalmente do que em fotografias. Às vezes, ela dá uns ares com a atriz Tânia Kalil, talvez pelo formato do rosto e pela expressão vagamente indefesa do olhar. Outras vezes, ela se parece com a atriz Deborah Secco, pela delicadeza do nariz e pela protuberância discretamente provocadora dos lábios. Mônica Veloso é uma mulher bonita e sensual. Tem 1,70 metro de altura, pesa 58 quilos. Para os antigos, é um pitéu. Para os de meia-idade, é uma gata. Para os jovens, é uma mina cabulosa. E não é que, com atributos para encantar todas as idades, Mônica Veloso virou pistoleira, chantagista, piranha? Virou a desonesta, a destruidora de lares, a mulher que seduzia políticos e poderosos à cata de um butim generoso, fisgando o senador José Renan Vasconcelos Calheiros?

Pobre Mônica. Como teve um romance com o senador, do qual nasceu uma menina, Mônica tornou-se agora vítima do machismo que sempre reserva à mulher o papel mais torpe da história. Se Mônica conta sua versão publicamente, o que ela é? Chantagista em busca de alguma vantagem. Se fica calada, o que é? A interesseira que vendeu seu silêncio a peso de ouro. Se exige que o senador ajude no sustento da filha, o que é? A biscateira que só pensa em dinheiro. Se não pede um tostão ao pai de sua filha, o que é? Ora, a calculista esperando a hora certa de dar o bote. Não tem saída. Mônica Veloso pode fazer o que quiser, mas estará sempre do lado errado. Porque do outro lado está o senador José Renan Vasconcelos Calheiros, o homem que confessa seu pecado, pede perdão à mulher e por pouco, muito pouco, não vira o ingênuo senhor que se perdeu nas curvas da sedutora maligna.

Mas, se o que interessa no escândalo todo não é o romance do senador com a jornalista, e sim a tenebrosa intimidade financeira do senador com um lobista de empreiteira, qual é a relevância de discutir os carimbos preconceituosos estampados sobre a imagem de Mônica Veloso? A relevância é a seguinte: isso explica por que o senador, desde a primeira hora do escândalo, distorceu a questão como se fosse um assunto privado. Trazendo a polêmica para o terreno da vida pessoal, o senador talvez soubesse, ou intuísse, que tinha uma vantagem já na largada: era o homem, o respeitável pai de família, contra a mulher, a jovem descasada. O senador foi tão covarde que jogou sobre a mulher até o peso não apenas de ser macho, mas também o de ser poderoso.

É injusto até com a história do Brasil, onde imperadores caíam deliciosamente nos braços de amantes inesquecíveis. Uma delas, menos conhecida do que a marquesa de Santos de dom Pedro I, era a condessa de Barral, bela baiana, filha de família ilustre, mulher inteligente e refinada, preceptora de princesas e paixão de dom Pedro II. Como se antecipasse em um século e meio a patacoada do senador em Brasília, a condessa de Barral escreveu: "São desgraças do Brasil / Um patriotismo fofo / Leis em parola, preguiça / Ferrugem, formiga e mofo".

Nenhum comentário: