FERNANDO DE BARROS E SILVA
A Polícia Federal é a grande vedete do governo Lula. Passou a ditar a pauta da mídia e a agenda nacional. O velho clichê, segundo o qual a política, no Brasil, é caso de polícia, precisaria ser invertido: a polícia virou caso de política. Há algo novo e estranho no ar.
A pré-história do quadro atual remete ao mensalão. Se a PF já exibia, desde o início, desenvoltura que não tinha sob FHC, foi no curso do escândalo que destruiu o patrimônio moral do PT e fez balançar a casa de Lula que ela se consolidou como alicerce político e pólo de poder.
O êxito de crítica e público atiçou a fantasia do FBI tropical, que não parou mais. Pelo contrário, a partir da máfia dos sanguessugas - e inclusive na reeleição, marcada pelo dossiê dos "aloprados"-, a PF só intensificou sua participação como protagonista da cena nacional. Chegamos agora ao paroxismo.
Os escândalos se sucedem em ritmo vertiginoso; cada operação parece rifar a anterior, antes que se saiba exatamente o que e quem estão sendo investigados. Anaconda, Pó da China, Hurricane - nomes cinematográficos e vilões surgem do nada, com estardalhaço, para logo evaporar do noticiário, dando lugar a novos personagens. O país parece submetido ao enredo espetacular de cada operação e da seqüência entre elas - como se atores administrassem, entrando e saindo do palco, os humores da platéia.
É quase inevitável que essa dinâmica, convertida em regra, produza a sensação de obras inacabadas ou, pior, de operações que, como as pontes de Zuleido, conduzem do nada a lugar nenhum. Tudo então não passa de teatro? Longe disso.
Sabe-se que havia, ou há, um passivo de impunidade armazenado por décadas no país que, finalmente, vai sendo destampado. Isso, porém, não apaga os paradoxos deste momento: como discernir entre eficiência e descontrole? Onde terminam os avanços "republicanos" e onde começam os retrocessos da "guarda imperial"? São dúvidas. Talvez ajudem a conter ilusões simplificadoras de entusiastas e detratores da Era das Operações.
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