Editorial da Folha de S. Paulo
A proposta de implantar o  sistema de votação em lista fechada no país, além de  ruim na sua essência, enfrentava  uma grande dificuldade para que  fosse aprovada na Câmara. A  maioria dos deputados teria de  aceitar conferir um cheque em  branco às oligarquias partidárias, que seriam as responsáveis  de fato pela ordenação das listagens impostas ao eleitorado.
Esse fator natural de resistência foi responsável pelo naufrágio da lista fechada na quarta.  Tampouco emplacou a fórmula  confusa, a chamada lista flexível,  ensaiada para tentar salvar algo  da proposta original. O fato a comemorar é que está derrotada, e  não deve voltar à pauta tão cedo,  a idéia de obrigar o eleitor a votar  em listas preordenadas pelas cúpulas partidárias nos pleitos para vereador e deputado.
Os deputados deveriam agora  aproveitar o momento e derrubar a proposta do financiamento  público exclusivo de campanhas,  bem como a sua versão "flex".  Esta escancara que os proponentes da regra querem mesmo, em  meio a promessas de que o sistema diminuirá a corrupção, é aumentar o dinheiro que os contribuintes já repassam às legendas.
Derrubados os pilares da "reforma política" que só interessava às elites partidárias, a Câmara  poderá debruçar-se sobre uma  agenda que esteja em sintonia  com os anseios da sociedade. Em  vez de ampliar os saques do erário, as siglas deveriam aprovar a  prestação de contas instantânea,  na internet, de candidatos e partidos -com identificação do doador e do destino dos recursos.
Em vez de retirar poder do  eleitor, é preciso garantir, com a  fidelidade partidária, que a configuração das casas legislativas  expresse a vontade das urnas. E o  desejável objetivo de fortalecer  os partidos não precisa ser perseguido por meio de uma absurda concentração de poder nas  cúpulas. Basta que o Congresso  aprove uma versão constitucionalmente robusta da chamada  cláusula de barreira.
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