NELSON MOTTA
Por muito menos, Bill Clinton sofreu um impeachment na Câmara e só se salvou, por um fio, no Senado. Não por seu romance secreto com a estagiária Monica, mas porque mentiu.
Imaginem se ele admitisse ser íntimo de um lobista da Boeing e que o amigo intermediasse seu romance e seus pagamentos?
E se descobrissem que ele se esquecera de declarar uma fazenda ao fisco ou à Justiça Eleitoral? Que os pagamentos a Monica eram em "cash" e sem recibo?
Pobre Clinton. Com toda a sua popularidade e prestígio, com sua honestidade e competência, presidindo o país num dos melhores períodos de sua história econômica e social, seria irremediavelmente removido do cargo, condenado a uma multa monumental e talvez até preso. Seria seu fim. O procurador Kenneth Starr e a direita cristã comemorariam a vitória do bem contra o mal. Mas Clinton só pecou contra a castidade e o bom gosto.
Já em Brasília, onde romances secretos de políticos galantes são a norma, e não a exceção, como um penduricalho do cargo, a mistura de recursos não contabilizados com paternidades não programadas acaba gerando paternidades não contabilizadas, mas que, em nome dos valores familiares, são perdoadas pelos colegas.
Eles são muito sentimentais. Se alguém "rasga a alma" diante de seus pares, finge-se que os seus bens e males serão investigados e arma-se uma não-ação entre amigos. A confissão da paternidade paralela e a humilhação pública da família sagrada já são castigos suficientes. Além disso, o acusador de hoje pode ser o acusado de amanhã.
As feministas e as muito feias que perdoem o poeta Vinicius de Moraes, mas, se beleza é mesmo fundamental, pelo menos em pesos e medidas, a nossa Monica é muito melhor. Pobre Clinton, pobres de nós.
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