14 junho 2007

O INOCENTE E OS CULPADOS

ELIANE CANTANHÊDE

"O que a gente vê de bonito na imprensa brasileira? Quais são as mensagens que nos provocam a viajar no final de semana? Não tem", disse Lula ontem, num evento em Brasília sobre turismo, conforme relato do repórter Pedro Dias Leite.

Ainda de Lula: "Se fala de Pernambuco, é morte; se fala do Ceará, é morte; se fala da Bahia, é morte. Aí a pessoa diz: "Espera aí, não vou sair daqui não, vou ficar dentro de casa".
E ainda olha, vê se não tem uma fresta, para não vir bala perdida".
Ou seja, gente: quem é culpado pelo Vavá, pelos mensaleiros, pelos aloprados do dossiê, pelo crescimento econômico haitiano, pelo fracasso do Fome Zero e do Primeiro Emprego, pelo caos aéreo, pela queda do Boeing, pela violência em Pernambuco, pelos atentados em São Paulo, pelas balas perdidas no Rio? A imprensa! A imprensa brasileira!
Enquanto isso, Lula continua sem ter culpa em nada, nunca.
Aconteça o que acontecer, doa a quem doer, investigue-se quem se investigar, Lula estava, está e estará acima de qualquer coisa. A imprensa é culpada sempre. Lula é inocente sempre. Sem discussão.
E ele também pode falar o que bem entender, na hora em que bem entender, do jeito que bem entender. O que soaria absurdo na boca de alguém, na dele é "capacidade de comunicação". O que seria pura e simplesmente errado na boca de alguém, ainda mais de um presidente da República, na dele é apenas engraçadinho, talvez esperteza. O resto, o Bolsa Família apaga.
Foi extemporâneo, portanto, criticar a ministra Marta Suplicy ontem por ter recomendado a todos que viajem à vontade, "relaxem e gozem". Se o chefe fala sem cerimônia sobre o "ponto G" num encontro público com Bush, por que Marta não pode falar o que quiser num evento no próprio ministério? Cada governo tem o palavreado e o linguajar que merece.

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