CLÓVIS ROSSI
Veja se não há a mais absoluta lógica na frase seguinte, pronunciada pelo presidente eleito da Guatemala, Álvaro Colom: "Há cartéis que têm seus próprios exércitos [na fronteira]. Não podemos ir lá com a polícia sozinha, temos que ir com o Exército, como uma operação de guerra, se de fato quisermos tomar o território de volta".
Muito bem, agora volte para o Brasil e veja se não há uma razoável semelhança de situações. Um: o crime organizado tem seus próprios exércitos, aliás, encravados em territórios urbanos. As fronteiras, para complicar mais, são porosas. Por elas, passa tudo: armas, drogas, contrabando.
Dois: parece igualmente óbvio que o Estado tem que "tomar o território de volta", ou seja, recuperar espaços perdidos ao longo do tempo para a criminalidade. Três: "a polícia sozinha" já foi "lá" uma porção de vezes, e não conseguiu recuperar o território.
Se o "um", o "dois" e o "três" são certos, como parece ser indiscutível, o "quatro" também deveria ser, certo? E qual é o "quatro"? É o "temos que ir com o Exército", conclusão do presidente guatemalteco recém-eleito. Detalhe importante: ele era o candidato contra a "linha dura", em geral associada ao "ir com o Exército".
O Brasil, no entanto, recusa-se pateticamente a pelo menos discutir o "ir com o Exército". Repito: não estou seguro de que usar o Exército em funções de segurança pública seja uma boa solução. Há inúmeras contra-indicações.
Mas a lógica contida na frase de Álvaro Colom também parece indiscutível, assim como sua aplicação ao Brasil.
Falta só as autoridades brasileiras pararem de rodear o toco, como é um invencível hábito tapuia, e pelo menos levar a discussão até as últimas conseqüências, para "ir com o Exército" ou não, mas "tomar o território de volta", sim ou sim.
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