01 novembro 2007

O TEMPO É INEXORÁVEL

Wilson Jacob Filho

Não há como evitar a comparação com o passado. Em conversas ou nas consultas médicas, observo com que esforço são feitos os confrontos entre passado e presente. Surge sempre a conclusão de que "envelhecer é uma porcaria".
Respeitando os motivos que levam cada um a pensar dessa maneira, tento mostrar o meu ponto de vista: felizmente, o tempo modifica tudo e, sem isso, não haveria evolução.
Há milhares de anos, o filósofo grego Heráclito conferiu-nos essa certeza profetizando que "ninguém entrará no mesmo rio duas vezes" e nós, mortais, verificamos a impossibilidade de fazer duas vezes a mesma coisa, da mesma maneira.
Se é fato que o tempo tudo modifica, qual a dificuldade em aceitar que nos modifique também? Evidente que entendo as dificuldades com que cada um faz aquilo que fazia antes, como subir uma escada ou lembrar-se de todos os detalhes. Cada um desses sintomas merece uma avaliação antes que se conclua serem decorrentes do processo de envelhecimento.
Freqüentemente, uma detalhada avaliação geriátrica identifica causas aparentemente inócuas que, quando corrigidas, têm sensíveis melhoras. Surpreendem-se aqueles que acreditam que o organismo funciona por partes independentes, em que cada órgão teria sua autonomia e o biológico se destacaria do psíquico. Grave engano: cada pessoa é uma só.
Por outro lado, poucos são os que se comparam ao passado e destacam os exemplos de quanto o envelhecimento lhe fez bem. De como era difícil aceitar certas limitações, agora incluídas no rol das dificuldades a serem vencidas. Aliás, a maioria sequer se recorda de que, quando jovem, enfrentou limitações pessoais. Admite apenas aquelas que lhes foram impostas pelos outros. Vivem da falsa memória da plena capacidade juvenil. Em todas as idades, enfrentamos limites que são vencidos ou respeitados de acordo com as nossas capacidades.
Em diálogos como esse, costumo citar uma história real e simples, que exemplifica a relação do homem com o tempo.
Na década de 1950, uma criança asmática foi aconselhada a tentar otimizar seu tratamento medicamentoso com exercícios, preferencialmente natação. Sua mãe, agoniada pelas inúmeras crises de falta de ar, fez o que lhe foi recomendado. Ele tanto se sentiu bem nadando que se dedicou ao esporte e, nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, ganhou sete medalhas de ouro.
O nadador americano Mark Spitz não vencera apenas os seus adversários. Antes teve que vencer a doença e os seus próprios preconceitos.
Como um dos recordes lá registrados perdurou imbatível por mais de uma década, o atleta tentou obter novamente o índice olímpico para integrar a equipe de natação que iria a Barcelona em 1992. Nas várias tentativas, conseguiu no máximo o quarto melhor tempo das seletivas e não pôde se incorporar à equipe. Apoiado na borda da piscina, disse: "Nada se pode fazer contra o tempo".
A que tempo, porém, Mark se referiu? Aos 20 anos que separavam as duas Olimpíadas, ao tempo-limite que permitiria seu ingresso na equipe ou às diferenças técnicas do esporte em duas décadas de evolução? Creio que a todos, pois, apesar de não ser um dos três melhores nadadores americanos naquela data, certamente ele era o melhor nadador com 40 anos de todos os tempos.

[...] EM TODAS AS IDADES, ENFRENTAMOS LIMITES QUE SÃO VENCIDOS OU RESPEITADOS DE ACORDO COM AS NOSSAS CAPACIDADES

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