04 dezembro 2007

CALA-TE 2

ELIANE CANTANHÊDE

O resultado do referendo na Venezuela foi ótimo para todos os lados, inclusive para Hugo Chávez e principalmente para a oposição. Foi, também, mais uma demonstração de que o país vive uma democracia - peculiar, é verdade, mas ainda assim democracia.
Chávez esticou demais a corda, e a corda estourou. Ele continua popularíssimo, com o preço do petróleo na estratosfera e cinco anos de mandato pela frente. É forte, portanto. Mas a derrota foi um banho de realismo, e ele está obrigado a uma boa reflexão sobre seus limites: até onde os chavistas estão dispostos a viver e a morrer por ele?
Ao praticamente inventar uma nova Constituição da sua própria cabeça e em seu próprio favor, ele acirrou os ânimos de uma oposição até agora combalida e introduziu dois fatores decisivos para a derrota de domingo: 1) espantou aliados estratégicos, que concordam com o projeto social, mas não com a guinada autoritária; 2) forjou uma nova força política no país - a estudantada que foi às ruas, cobrindo o vácuo de lideranças oposicionistas.
A ausência de 44% do eleitorado (o voto é facultativo) demonstra que as críticas tanto dos desiludidos como dos estudantes tiraram o ânimo de eleitores chavistas. Na dúvida, ficaram em casa.
Sem querer, Chávez pode sair lucrando. Perdeu, acatou o resultado, sinalizou ao mundo que ele até pode ter impulsos de ditador, mas a Venezuela não vive uma ditadura.
Aliás, estava em paz ontem.
É hora de baixar a crista, calar um pouco, reabrir os canais com a Colômbia. Isso tudo faria enorme bem a Chávez, à Venezuela e à América do Sul. Facilitaria, inclusive, o voto do Congresso pela adesão do país ao Mercosul.
Só falta combinar com o adversário. Chávez reagiu bem no primeiro momento, mas tem ainda muito tempo para novas estripulias e para insistir em mandatos sucessivos.
Senão não seria Chávez.

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