Brasil vai mal em prova internacional de leitura, matemática e ciências; resultado serve para tirar educação do marasmo
São poucas as surpresas, menos ainda boas, no desempenho de estudantes brasileiros na prova de 2006 do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos). O exame feito de três em três anos pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) desnudou o que já está à vista de todos: a educação vai mal no país.Eis o resumo: entre 57 nações (30 da OCDE e 27 voluntárias, como o Brasil), o país obteve a 53ª posição em matemática, a 52ª em ciências e a 48ª em leitura. A distância em relação à média da OCDE, nos três casos, é de uma centena de pontos em 500.
A deprimente comparação internacional, ainda que confirmatória, serve para espantar a complacência diante do naufrágio. Se não por razões de eqüidade, ao menos por pragmatismo os brasileiros responsáveis já parecem dar-se conta de que como está o ensino não pode ficar: cidadãos mais cultos e qualificados são pré-requisito para participar do mercado internacional.
Acima de tudo, porém, estatísticas à moda do Pisa são úteis para diagnóstico. Esmiuçados seus dados, o exame revela que nem a educação de elite vai bem por aqui. O Brasil apresenta a maior distância no desempenho de escolas pública e privadas, mas nem por isso ganha número significativo de posições no ranking quando só as particulares são consideradas. Também na comparação dos 5% de melhores alunos brasileiros com os 5% superiores da OCDE o país continua 80 a 115 pontos abaixo da média dos países desenvolvidos.
Em outras palavras, a negligência com o ensino público piora a qualidade da educação de modo sistêmico. A depreciação da carreira de professor não afeta só escolas da rede oficial, pois as privadas recrutam professores em meio aos mesmos egressos de universidades que já renunciaram ao papel de propagar o melhor conhecimento também fora de seus muros.
O quadro paulista é ilustrativo. Ainda que ostente a segunda melhor renda per capita do país (atrás do Distrito Federal), o Estado fica em 11ª (matemática e leitura) ou 12ª (ciências) colocação entre 27 unidades da Federação. O governador José Serra e sua secretária da Educação podem fazer as ponderações estatísticas que lhes parecerem adequadas, mas não terão o poder de apagar a constatação: no Estado mais rico, a educação está abaixo da média nacional e muito aquém da média OCDE.
Nem tudo é negativo, porém. Em matemática, os estudantes brasileiros avançaram 14 pontos desde a prova de 2003 (já em leitura houve recuo de 10). Mais: os 5% piores ganharam nada menos que 23 pontos. Há quem veja aí frutos do esforço de popularização da matéria, em iniciativas como as olimpíadas de matemática, o que não parece descabido.
É disso que a educação precisa: alunos liderados por professores competentes na busca da excelência. Competições, contudo, são só um ingrediente. Crucial mesmo é formar, recrutar, premiar e reter os melhores mestres, pagando-lhes salário digno e cobrando o resultado devido.
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O que é de um país sem educação?
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