13 abril 2007

VER OU NÃO VER, EIS A QUESTÃO

NELSON MOTTA

Antes de qualquer outra pergunta, o 1º Fórum Nacional de TVs Públicas deveria enfrentar com coragem a mais importante: por que quase ninguém as vê? Porque as acham chatas? Malfeitas? Burras ou inteligentes demais?

Os números do Ibope são fatais: a média diária de audiência das TVs públicas e estatais na Grande Rio é de 0,11%, exatos 11.120 espectadores, num universo de oito milhões de habitantes. Na Grande São Paulo, a média é 0,42%, ou 75.690 pessoas entre 16 milhões. A média nacional é de 0,26%, com mais 56 mil brasileiros espalhados pelos outros Estados. Não é muito pouca gente para tanto dinheiro?

Mas o quadro é ainda pior. Porque os raros programas de sucesso, como "Sem Censura", "Roda Viva" e desenhos animados, puxam a audiência para cima e a média fica ainda mais baixa nos outros horários. Então, para que e para quem se está gastando tanto tempo, dinheiro e trabalho?

Certamente a maioria dos funcionários das TVs estatais se esforça muito e ganha pouco, muitos são competentes e alguns, talentosos. Mas só a falta de recursos não explica por que o público, esse ingrato, não está vendo o que eles, com tanta boa vontade, produzem.

É uma questão de cultura ou de mercado? De conceitos atrasados ou politicagem? Ou, no fundo, de desprezo pelo "mau gosto" do povão que lhes paga os salários? Muito mais pela cidadania fez a TV Globo com "Central da Periferia". E milhões viram.

As TVs universitárias e comunitárias, de alcance e público restritos, têm baixos custos e são instrumentos de avanço democrático e da livre expressão. Mas as estatais deviam fazer uma autocrítica.

Quem não se comunica se trumbica, advertia o Chacrinha. Mas, no caso dessas TVs, só quem se trumbica é o contribuinte.

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