05 abril 2007

MEDO DE VOAR

ROGÉRIO GENTILE

"AS COISAS são mais belas quando vistas de cima".
A realidade nacional desmentiu Santos Dumont. No Brasil de Luiz Inácio e controladores de vôo sediciosos, as coisas são mais belas quando vistas do chão, em terra firme, e, de preferência, bem longe dos aeroportos.

Quem consegue voar tranqüilamente hoje no país? Há seis meses um avião lotado da Gol caiu, em última instância, porque o piloto não foi avisado de que havia um outro na contramão. Falha de equipamento? Falha humana? Os dois? Ninguém sabe. O fato é que 154 pessoas morreram.

Desde então, uma série de acontecimentos contribuiu, e muito, para agravar a sensação de insegurança dos passageiros.

Os controladores de vôo revelaram seu próprio descontrole com os protestos que pararam o país. Ficou evidente que trabalham pressionados, insatisfeitos e sob profunda tensão.

Os aeroportos mostraram seu processo de sucateamento - Congonhas pára sempre que chove porque a pista principal está velha e escorregadia; Cumbica teve de recusar pousos pelo fato de os instrumentos de auxílio ao vôo em situação de neblina terem ficado quebrado, sem conserto, por um mês inteiro.

Agora são os pilotos que se dizem no limite do estresse e do cansaço, trabalhando mais tempo que o permitido pela legislação e desconfiados das informações passadas pelos controladores. Dá mesmo para viajar numa boa?

O pior é que quem poderia acalmar os ânimos e resolver a situação - com bom senso, planejamento, investimentos e, por que não, ousadia,- se mostra confuso, vacilante e despreparado para enfrentar situações de crise.

Num dia, Lula, atropelando o Comando da Aeronáutica, cede aos controladores; no outro, dizendo-se apunhalado pelas costas, rasga o acordo e cede aos militares.

Lula - que parece não saber qual papel quer desempenhar na história, o de companheiro-mor ou o de presidente da República- poderia, desde outubro, data do primeiro apagão aéreo, ter preparado o sistema para outros protestos. Não o fez e agora diz ter sido surpreendido pelos fatos. Balela.

Governar não é apenas fazer política - um agrado aqui, um abraço suado ali, muita intuição e estamos conversados. Lula passou meses debruçado sobre a reforma ministerial e conseguiu, de um modo geral, resguardando as exceções, montar uma equipe apenas pífia.

A sorte dele, como disse o professor Marco Antonio Villa ontem na Folha, é que o país está anestesiado. "Pode acontecer qualquer coisa que não vai resultar em nada. O governo está protegido, blindado, porque o país não se assusta com mais nada."

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