26 abril 2007

PREFEITURA DE SÃO PAULO INFLUENCIA JOGO DE 2010

KENNEDY ALENCAR

A disputa pela Prefeitura de São Paulo no ano que vem ajudará a moldar os planos eleitorais para 2010 dos quatro principais partidos do país: PT, PSDB, PMDB e DEM (ex-PFL).

É um chavão da política, algo com ares de lei eleitoral, dizer que os pleitos municipais servem de prévia da disputa presidencial que ocorre dois anos depois. Nem sempre. Em 2004, o PT perdeu a capital paulista. Em 2006, Lula se reelegeu após a tremenda crise do escândalo do mensalão.

No entanto, as articulações em curso pelo Poder Executivo paulistano revelam muito sobre o futuro dessas quatro legendas.

No PT, a ministra do Turismo, Marta Suplicy, seria a candidatura natural. Ela já foi prefeita da cidade (2001-2004).

Marta, porém, colocou-se fora do páreo. Argumentou que o convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que integrasse o primeiro escalão exigia um compromisso com um horizonte de quatro anos.

A ministra declarou que seu objetivo é disputar o governo de São Paulo em 2010. Com isso, gera menor possibilidade de atritos políticos do que se tivesse assumido o desejo de concorrer ao Palácio do Planalto.

Foi um posicionamento hábil. Se o PT e Lula quiserem que ela dispute a prefeitura, terão de pedir. E ela estará liberada. Se tiver êxito no Turismo e costurar apoios políticos no PT e com aliados, poderá ser candidata ao governo paulista ou à Presidência - esta última postulação é algo que depende menos de vontade pessoal e mais das circunstâncias.

Lembrete: há outros presidenciáveis no PT, como o governador da Bahia, Jaques Wagner, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias.

Se Marta não concorrer em 2008, o PT lançará um candidato com menos chance. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), está de olho na vaga. Galgou posições no petismo com a eleição para comandar a Câmara, aproveitando-se da queda em série de caciques do partido em São Paulo. Começou bem sua gestão, mas está se perdendo. Quer proibir um deputado de usar chapéu de couro e resolveu afastar os jornalistas de perto do plenário da Casa.

Uma novidade que pode surgir é o lançamento da candidatura de Fernando Haddad, ministro da Educação. Nesta semana, será lançado o PAC da Educação, uma das apostas do presidente no segundo mandato. Técnico competente, Haddad está em alta no governo. Lula gosta dele. Já teve gente que ouviu o presidente dizer que ele poderia ser candidato a prefeito pelo PT.

No PSDB, a disputa pela Prefeitura de São Paulo também terá alta relevância. O governador do Estado, o tucano José Serra, deseja que seu partido apóie a tentativa de reeleição de Gilberto Kassab (DEM).

Serra sabe que Kassab tem pouca chance. Desgastou-se em episódios recentes, mas ganhou pontos ao tirar outdoors e cartazes da capital. Uma eventual vitória do DEM seria uma conquista histórica da sigla, que se vitaminaria para 2010.

Mais: Kassab é um dos ferrenhos articuladores do apoio do DEM a Serra em 2010. Daí o empenho do governador nos bastidores para ajudá-lo. Espera retribuição futura, o que é legítimo e natural na política.

O ex-governador tucano Geraldo Alckmin, que perdeu a eleição presidencial para Lula, ameaça os planos de Serra. Deve se candidatar à prefeitura com o objetivo de se manter vivo no jogo político. O êxito dessa empreitada tende a favorecer o projeto presidencial do governador de Minas, o também tucano Aécio Neves.

Atualmente, Serra está mais bem posicionado nas pesquisas do que Aécio. O governador paulista terá o relevante argumento de que o lançamento de Alckmin em 2002, que tinha menos cacife nas pesquisas do que ele, Serra, é um fator favorável à sua pretensão de concorrer ao Palácio do Planalto. Seria um erro, pensam os serristas, o PSDB repetir tal estratégia.

Já Aécio joga com uma maior capacidade de aglutinação política. Tem ótimas relações com o PMDB e com setores do DEM. O próprio Lula já sinalizou a auxiliares que não acharia ruim uma vitória de Aécio em 2010. Até lá, o mineiro terá tempo para se projetar mais nacionalmente e aumentar sua intenção de voto nas pesquisas.

Para o PMDB, a disputa paulistana será uma espécie de novo teste da aliança preferencial entre o partido e o PT. As duas legendas estão se matando nos bastidores pela partilha de cargos no segundo escalão de Lula.

Em 2004, não foi possível uma união oficial entre petistas e peemedebistas em São Paulo. O sonho do PMDB é ser para Lula e o PT o que o PFL (hoje DEM) foi para o tucano Fernando Henrique Cardoso durante sete de seus oito anos de poder. FHC foi presidente entre 1995 e 2002.

O sonho do PMDB é virar o aliado principal do PT. Aquela força política que receberá a maior fatia de cargos e benesses públicas ao apoiar um projeto presidencial, recebendo ainda apoio em disputas estaduais em que tiver mais chance do que os petistas.

Para enfrentar os tucanos daqui a quatro anos, o PT avalia que precisará do apoio oficial do PMDB. PSB e PC do B, aliados tradicionais do petista, trabalham pelo lançamento do ex-ministro e deputado federal Ciro Gomes (CE) à Presidência.
Para petistas e peemedebistas, as eleições municipais podem ser o noivado do casamento eleitoral de 2010.

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