26 abril 2007

UNANIMIDADE NEM SEMPRE É BURRA

Eliane Cantanhêde

Lula certamente discorda da máxima de que "toda unanimidade é burra", porque ele só pensa nisso: maioria não basta; bom mesmo é unanimidade.

Basta ver os passos políticos do presidente nesse segundo mandato, quando ele calou as críticas do PT, amealhou todos os partidos mensaleiros da direita, embolsou o PMDB inteiro (com Temer, Geddel, Padilha e Moreira Franco junto) e agora joga todo o seu charme (sabe-se lá mais o quê...) em cima do PSDB.

E não é apenas uma questão de partidos, mas também dos grandes (para o bem e para o mal) nomes da política. Paulo Maluf, Jader Barbalho, Collor, agora ACM e líderes tucanos escolhidos a dedo no Congresso já estão todos no papo. A hora agora é de atrair Tasso Jereissati, Aécio Neves, José Serra e já há planos para o refratário FHC mais adiante.

Quando Lula perdeu para Collor em 1989, posicionou-se como o mais vigoroso opositor e foi um dos personagens-chave no impeachment. Quando Lula perdeu para FHC em 1994 e depois em 1998, também ficou na linha de frente da oposição - uma oposição que gritava "Fora FHC" e espalhou a versão, falsa, de que se tratava de um dos governos mais corruptos das galáxias.

Agora, quando a situação se inverte, e Lula é o vencedor, ele quer que os perdedores sejam o oposto do que ele foi. Ciro Gomes perdeu em 2002 e virou ministro. José Serra também perdeu e agora é alvo de gestos e palavras de simpatia de Lula, de Mantega, de Dilma, de Henrique Meirelles. E Aécio, que não perdeu nada, mas poderia fazer barulho na oposição, também só recebe mimos.

A oposição que Lula fez aos outros governos, portanto, não existe mais. Antes, oposição boa era a que derrubava governos e chamava todo mundo de ladrão. Agora, oposição boa é a que esquece rápido o mensalão, a compra de dossiês, os caseiros, as turmas das prefeituras isso e aquilo, negociando "patrioticamente" com o governo federal para o bem do país e do povo...

Lula, enfim, achava que era oposição era fundamental e era preciso criticar, cobrar, provocar, pressionar enquanto os presidentes eram os outros. Agora, acha que é preciso compor, relevar, negociar, passar panos quentes, quanto o presidente é ele próprio.

Sei não, mas do jeito que a coisa vai, só vai sobrar um partido na oposição, o Democratas, ex-PFL. E, assim mesmo, pela metade. ACM já caiu na rede. Só sobrou Bornhausen, o último dos moicanos.

Para Lula, unanimidade não tem nada de burra. Ao contrário, é pura questão de lábia e de esperteza. E 2010 vem aí.

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