30 abril 2007

DEFINIÇÕES

Política é reunir pessoas em torno de idéias.

Partido é organizar pessoas em torno de idéias.

Populismo é reunir pessoas em torno de pessoas.

Demagogia é reunir pessoas em torno de quaisquer idéias.

MEU REINO POR UM CAVALO

Roberto Pompeu de Toledo

O cavalo em questão é o do candomblé; quem o procura é o professor Mangabeira Unger

O professor Roberto Mangabeira Unger acabara de virar ministro, mas, na conversa que manteve com a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, na semana passada, o momento excelso, para o comum das pessoas, tão cheio de promessas e de íntima satisfação, que é o de ascender ao primeiro escalão do governo, parecia-lhe antes queimar-lhe as vísceras do que afagar-lhe o ego. "Ministro, aqui é da Folha de S.Paulo", começou a jornalista. "Olha, eu falarei à imprensa quando regressar ao Brasil. Estou terminando os meus cursos." Mangabeira Unger é professor da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e era de lá que falava. "O senhor mudou de opinião sobre o governo Lula?", insistiu a jornalista. "Não, não, não! Me desculpe, eu vou falar com a imprensa quando regressar ao país." A jornalista ainda fez nova tentativa: "Está todo mundo na dúvida..." Mangabeira Unger: "Eu não vou falar. Mas estarei à disposição quando voltar".

O novo "ministro das Ações de Longo Prazo", como foi batizada a pasta com que foi contemplado, soava aflito como quem, no curto, curtíssimo prazo, tem a tarefa ingrata de encontrar uma maneira de explicar-se. Mangabeira Unger não recebeu mensalão de Delúbio Soares nem integrava a máfia da venda de sentenças judiciais. No entanto, na breve conversa com Mônica Bergamo, parecia incomodado como se tivesse pesadas culpas a expiar.

O caso da nomeação do professor de Harvard para o ministério é dos mais espantosos deste espantoso governo Lula. Em novembro de 2005, Mangabeira Unger reagiu à crise do mensalão com um artigo devastador. "Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto da nossa história nacional" era a primeira frase. Ninguém foi tão direto e contundente, nem naquele período, nem em nenhum outro. O artigo usava o recurso retórico de começar cada parágrafo com um "afirmo", e a cada "afirmo" vinha chumbo grosso. "Afirmo ser obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente. (...) Afirmo que descumpririam seu juramento constitucional e demonstrariam deslealdade para com a República os mandatários que, em nome da lealdade ao presidente, deixassem de exigir seu impedimento." Em outros "afirmo", o governo Lula é acusado de "fraudar a vontade dos brasileiros" e o presidente, pessoalmente, de ser "avesso ao trabalho e ao estudo, desatento aos negócios do estado, fugidio de tudo o que lhe traga dificuldade ou dissabor e orgulhoso de sua própria ignorância".

Um ano e meio depois – só um ano e meio! – o autor de tal diatribe é premiado com a nomeação para o ministério. A virada é desconcertante como, para citar um caso remoto da história do Brasil, a do jornalista e político do Império Francisco de Sales Tôrres Homem, que desancava os Bragança como uma "estirpe sinistra", capaz tão-somente de gerar "crápulas", "pusilânimes", "libidinosos", "fracos" e "ignorantes" e acabou não apenas ministro como também, por ação direta de dom Pedro II, nomeado senador e agraciado com um título nobiliárquico (visconde de Inhomirim). Num caso como no outro, quem nomeia e agracia é a parte forte da equação. Tanto para dom Pedro II, a seu tempo, quanto agora para Lula, é o momento de rir por dentro. "Viu como eles são? Viu como lhes basta um afago? Viu como são capazes de se desmoralizar? De deixar claro que o que diziam era pura bazófia?" É também o momento de se mostrarem superiores e magnânimos. Dizem que Tôrres Homem chegou a ajoelhar-se diante do imperador e pedir perdão.

Agora é a vez de Mangabeira Unger, esse curioso personagem, que já serviu nas proximidades de Leonel Brizola e Ciro Gomes e, antes de achegar-se à legião lulista, filiou-se ao PRB, partido da Igreja Universal do Reino de Deus, mesmo não tendo nada a ver com a crença ou os negócios pentecostais. Ter aceito a nomeação equivale a pôr-se de joelhos. Por que o fez? "Ele mudou de idéia", disse o senador fluminense Marcelo Crivella, seu colega de PRB. Bem, até aí... Caso continuasse com a mesma idéia, a única explicação seria que, baldados seus esforços de minar o governo de fora, tentaria agora fazê-lo por dentro. O mais provável é que Mangabeira Unger não tenha mudado nem deixado de mudar de idéia. Simplesmente lhe seria irrelevante a corrupção no governo, ou a aversão de seu chefe ao trabalho e ao estudo, desde que lhe seja facultado o acesso ao ouvido do presidente. Isso combina melhor com a trajetória e o perfil do personagem.

Mangabeira Unger é um autor na desesperada busca de um personagem. Ou, melhor ainda, um espírito, um puro espírito, em busca de um corpo em que encarnar. Ou um santo que, como no candomblé, procura um cavalo de que se apossar. Foi assim que tentou atrelar-se a Brizola, depois a Ciro Gomes. O professor é um teórico cheio de receitas para o país. Busca um político com popularidade e poder para implementá-las. O problema é que, na novel relação com Lula, sai em desvantagem. Ao recebê-lo, o presidente o fará sempre com um risinho escondido, lá dentro.

OS FIDALGOS E O XAMPU

André Petry

"O foro privilegiado é a excrescência que divide o Brasil em moradores da casa-grande e moradores da senzala"


O desembargador Ernesto Dória, um dos 25 presos da máfia da venda de sentenças, foi solto na madrugada de segunda-feira. Ao deixar a Polícia Federal, ajoelhou-se, fez o sinal-da-cruz e ergueu os braços para o alto. Precisava agradecer aos céus? Bastava agradecer ao "foro privilegiado", excrescência em nome da qual se criou a seguinte bruxaria: dos 25 presos, 21 seguem presos e quatro – um procurador e três desembargadores – estão livres como os passarinhos de Quintana. É mais um exemplo da necessidade de acabar com o foro privilegiado, instituto que, ao remeter o julgamento de autoridades para tribunais superiores, divide o país em moradores da casa-grande e moradores da senzala.

Os defensores dizem que o foro privilegiado:

* Não fere o princípio de que todos são iguais perante a lei porque protege a função pública, e não a pessoa que a exerce. (Fosse isso, o ex-petista Juvenil Alves não teria direito a foro privilegiado porque é acusado de comandar um esquema de sonegação que desviou perto de 1 bilhão de reais dos cofres públicos. O que se protege aqui? O mandato parlamentar ou a pilantragem?)

• Não é privilégio, mas garantia jurídica para que a autoridade possa bem cumprir sua função pública. (Então, o foro privilegiado deveria ser restrito a crimes funcionais, conexos com a função. O ex-deputado Hildebrando Pascoal teve direito a foro privilegiado no processo por assassinato. Matar é crime funcional?)

• Protege as autoridades da perseguição de juízes de primeira instância e procuradores ávidos por holofotes. (Decisões de primeira instância não são irrecorríveis. Aliás, não há exemplo de autoridade "perseguida" que não tenha revertido a "perseguição". Sem contar que são as autoridades – não os cidadãos comuns – que têm mais condição de buscar reparação judicial e reverter "perseguições".)

• É uma garantia de que autoridades serão julgadas com justiça, por um órgão colegiado composto de magistrados experientes. (É por isso que a doméstica Maria Aparecida de Matos passou um ano e sete dias na cadeia por ter furtado um vidro de xampu. Cidadãos comuns não precisam de julgamentos justos nem de juízes experientes?)

• É uma garantia para a sociedade, pois os tribunais superiores são mais infensos à eventual pressão do acusado poderoso. (O Supremo Tribunal Federal pode não ter cedido à pressão de ninguém, mas o fato é que, na democracia, nunca condenou um deputado federal, um senador, um ministro. Nunca.)

Nos Estados Unidos, não tem foro privilegiado. Vai ver que lá não existe garantia jurídica, as autoridades não exercem bem sua função pública e vivem sendo perseguidas, e a sociedade, coitada, não sabe o que é julgamento justo.

Lembram-se dos fidalgos, dos doutores, dos membros da família do imperador, dos cavaleiros, dos escrivães da Real Câmara, que tinham foro privilegiado? Pois é, os nomes e os títulos mudaram desde o Império. Só os nomes e os títulos.

OS MEUS NAMBIQUARAS

Diogo Mainardi

"Eu analiso os usos e costumes do petismo como Lévi-Strauss, Roquette-Pinto e Roosevelt analisaram os usos e costumes dos nambiquaras. Os petistas me parecem uma raça gigante de formigas. Eles me parecem homens da Idade da Pedra, ingênuos e ignorantes como animais domésticos"

Os petistas só se referem a mim como "O colunista" ou "O colunista da VEJA".

Trata-se de um tabu bastante comum entre os povos primitivos. Os índios nambiquaras nunca pronunciam os nomes dos outros membros da tribo. Eles acreditam que os nomes próprios possuem propriedades mágicas, sendo escolhidos diretamente por Dauãsununsu, o ente supremo. Revelá-los é um sacrilégio.

Os oromos, da Etiópia, nutrem o mesmo temor pelos nomes próprios. As mulheres oromos costumam denominar seus maridos a partir de alguma característica marcante. Podem chamá-los de "O Honesto", ou "O Prudente", ou "O Desdentado", ou "O Dono do Cavalo Marrom".

Eu sou o "Dono do Cavalo Marrom" dos petistas. Se eu sou o "Dono do Cavalo Marrom" dos petistas, eles só podem ser os meus oromos, os meus nambiquaras. Sinto em relação aos petistas o mesmo espanto e o mesmo encantamento que Claude Lévi-Strauss sentiu em relação aos selvagens de Mato Grosso. Claude Lévi-Strauss, num de seus principais tratados sobre o assunto, comparou os nambiquaras a "uma raça gigante de formigas". Edgar Roquette-Pinto, que percorreu o território nambiquara duas décadas antes do antropólogo francês, definiu-os como "homens da Idade da Pedra". O presidente americano Theodore Roosevelt, que também passou pelas terras dos nambiquaras, afirmou que eles "nem chegaram à Idade da Pedra, sendo ingênuos e ignorantes como animais domésticos".

Eu analiso os usos e costumes do petismo como Claude Lévi-Strauss, Edgar Roquette-Pinto e Theodore Roosevelt analisaram os usos e costumes dos nambiquaras. Os petistas me parecem uma raça gigante de formigas. Eles me parecem homens da Idade da Pedra, ingênuos e ignorantes como animais domésticos.

Claude Lévi-Strauss estudou o código de leis dos nambiquaras. Seu aparato legal tem o mesmo grau de incerteza e de arbitrariedade que o aparato legal do petismo. Em todos os processos dos petistas contra mim – uns 200 –, eles sempre acabam citando um trecho de um artigo que publiquei em 2005:

"Hoje em dia, só dou opinião sobre algo mediante pagamento antecipado. Quando me mandam um e-mail, não respondo, porque me recuso a escrever de graça. Quando minha mulher pede uma opinião sobre uma roupa, fico quieto, à espera de uma moedinha".

Para os petistas, essa é a prova cabal da minha venalidade, do meu mercenarismo. Afinal, se eu confesso candidamente que minha mulher compra minha opinião, é porque ela de fato compra. E, se ela compra, qualquer um pode comprar. Esse foi o melhor argumento que eles conseguiram encontrar contra mim.

Muita gente teme que o petismo descambe para alguma forma de totalitarismo. "O colunista da VEJA" é menos otimista. Ele acha que o país tem tudo para se transformar numa imensa aldeia nambiquara, cheia de formigas gigantes.

27 abril 2007

SOU O BACURI DO KENNEDY

Diogo Mainardi

"O antigo assessor de Lula, Kennedy Alencar, publicou uma nota vaticinando qual seria o resultado do processo do ministro contra mim. Acertou até na quantia que eu teria de pagar. Atropelado pelos eventos, o juiz Sérgio Wajzenberg decidiu me condenar às pressas, antes de analisar minhasprovas e antes de interrogar minhas testemunhas"

Eu sou o Bacuri do petismo. Bacuri foi torturado e morto pelo regime militar. Os informantes que a imprensa tinha no Deops e os informantes que o Deops tinha na imprensa souberam que ele seria morto duas semanas antes de o assassinato de fato ocorrer. Ao contrário do que fizeram com Bacuri, ninguém arrancou minhas orelhas, ninguém perfurou meus olhos. O regime militar era brutal. O petismo é só rasteiro. O colunista da Folha Online Kennedy Alencar noticiou que eu seria condenado no processo contra Franklin Martins um dia antes que o juiz efetivamente me condenasse. Se eu sou o Bacuri do petismo, Kennedy Alencar é o informante do Deops.

Na semana passada, aqui na coluna, dei um peteleco em Franklin Martins. Na segunda-feira, o antigo assessor de imprensa de Lula, Kennedy Alencar, publicou uma nota vaticinando qual seria o resultado do processo do ministro contra mim. Ele acertou até a quantia que eu teria de pagar: 30.000 reais. No dia seguinte, atropelado pelos eventos, o juiz Sergio Wajzenberg decidiu me condenar às pressas, antes de analisar minhas provas e antes de interrogar minhas testemunhas. Como sou parte em causa, tenho de tratar do assunto com uma certa cautela. A OAB, a corregedoria e a imprensa podem se ocupar do caso bem melhor do que eu. Mas a sentença do juiz Wajzenberg merece um comentário.

O juiz Wajzenberg, como José Dirceu, só me chama de Diego na sentença. É Diego para cá, Diego para lá. Eu, Diego, sou descrito como um camarada da melhor qualidade: inteligente, brilhante, digno, leal, honesto e cumpridor de meu papel social. Mas cometi um erro ao identificar Franklin Martins como simpatizante de Lula, embora ele tenha sido nomeado, um ano depois do meu artigo, ministro de Lula. O juiz Wajzenberg se define como uma "velhinha de Taubaté". Ele afirma que, como a velhinha de Taubaté, "prefere acreditar" que um jornalista pode desempenhar seu trabalho com autonomia, mesmo que todos os seus parentes sejam beneficiados com cargos no governo.

O juiz Wajzenberg absolve também o "povo brasileiro". Ele alega que, como um bando de índios, nós toleramos a prática do "escambo". Por isso, "um ato que pode parecer uma troca de favores na verdade pode significar um reconhecimento do poder político". O juiz Wajzenberg diz que, diante da falta de trabalho, moradia e saúde, temos dificuldade de "entender o que é bom e o que é ruim". Mas ele "prefere acreditar" que "a maioria do povo brasileiro é digna, acredita em Deus e age para que nosso futuro seja melhor". Contaminado pelo espírito benevolente do juiz Wajzenberg, prefiro acreditar que em nenhum momento ele sentiu o peso de julgar um ministro, prefiro acreditar que ele nem considerou a hipótese de favorecer um membro do governo para obter algum tipo de vantagem em sua carreira, prefiro acreditar que ele conduziu meu processo com lisura, prefiro acreditar que ninguém arrancou minhas orelhas e ninguém perfurou meus olhos.

A ALMA DO OUTRO

Lya Luft

"No relacionamento amoroso, familiar ou amigo acredito que partilhar a vida com alguém que valha a pena é enriquecê-la. Permanecer numa relação desgastada é suicídio emocional, é desperdício de vida"


"A alma do outro é uma floresta escura", disse o poeta Rainer Maria Rilke, meu único autor de cabeceira.

A vida vai nos ensinando quanto isso é verdade. Pais e filhos, irmãos, amigos e amantes podem conviver décadas a fio, podem ter uma relação intensa, podem se divertir juntos e sofrer juntos, ter gostos parecidos ou complementares, ser interessantes uns para os outros, superar grandes conflitos – mas persiste o lado avesso, o atrás da máscara, que nunca se expõe nem se dissipa.

Nem todos os mal-entendidos, mágoas e brigas se dão porque somos maus, mas por problemas de comunicação. Porque até a morte nos conheceremos pouco, porque não sabemos como agir. Se nem sei direito quem sou, como conhecer melhor o outro, meu pai, meu filho, meu parceiro, meu amigo – e como agir direito?

Neste momento escrevo, como já disse, um livro sobre o silêncio. Começou como um ensaio na linha de O Rio do Meio e Perdas & Ganhos, mas acabou se tornando um romance, em pleno processo de elaboração. Isso me faz refletir mais agudamente sobre a questão da comunicação e sua por vezes dramática dificuldade, pois nos mal-entendidos reside muito sofrimento desnecessário.

Amor e amizade transitam entre esses dois "eus" que se relacionam em harmonia e conflito: afeto, generosidade, atenção, cuidados, desejo de partilhamento ou de vida em comum, vontade de fazer e ser um bem, e de obter do outro o que para a gente é um bem, o complicado respeito ao espaço do outro, formam um campo de batalha e uma ponte. Pontes podem ser precárias, estradas têm buracos, caminhos escondem armadilhas inconscientes que preparamos para nossos próprios passos em direção do outro. O que está mergulhado no inconsciente é nosso maior tesouro e o mais insidioso perigo.

Pensar sobre a incomunicabilidade ou esse espaço dela em todos os relacionamentos significa pensar no silêncio: a palavra que devia ter sido pronunciada, mas ficou fechada na garganta e era hora de falar; o silêncio que não foi erguido no momento exato – e era o momento de calar.

Mas, como escrevi várias vezes, a gente não sabia. É a incomunicabilidade, não por maldade ou jogo de poder, mas por alienação ou simples impossibilidade. Anos depois poderá vir a cobrança: por que naquela hora você não disse isso? Ou: por que naquele momento você disse aquilo?

Relacionar-se é uma aventura, fonte de alegria e risco de desgosto. Na relação defrontam-se personalidades, dialogam neuroses, esgrimem sonhos e reina o desejo de manipular disfarçado de delicadeza, necessidade ou até carinho. Difícil? Difícil sem dúvida, mas sem essa viagem emocional a existência é um deserto sem miragens.

No relacionamento amoroso, familiar ou amigo acredito que partilhar a vida com alguém que valha a pena é enriquecê-la; permanecer numa relação desgastada é suicídio emocional, é desperdício de vida. Entre fixar e romper, o conflito e o medo do erro.

Somos todos pobres humanos, somos todos frágeis e aflitos, todos precisamos amar e ser amados, mas às vezes laços inconscientes enredam nossos passos e fecham nosso coração. A balança tem de ser acionada: prevalecem conflitos ásperos e a hostilidade, ou a ternura e aqueles conflitos que ajudam a crescer e amar melhor, a se conhecer melhor e melhor enxergar o outro? O olhar precisa ser atento: mais coisas negativas ou mais gestos positivos? Mais alegria ou mais sofrimento? Mais esperança ou mais resignação?

Cabe a cada um de nós decidir, e isso exige auto-exame, avaliação. Posso dizer que sempre vale a pena, sobretudo vale a pena apostar quando ainda existe afeto e interesse, quando o outro continua sendo um desafio em lugar de um tédio, e quando, entre pais e filhos, irmãos, amigos ou amantes, continua a disposição de descobrir mais e melhor quem é esse outro, o que deseja, de que precisa, o que pode – o que lhe é possível fazer.

Em certas fases, é preciso matar a cada dia um leão; em outras, estamos num oásis. Não há receitas a não ser abertura, sinceridade, humildade que não é rebaixamento. Além do amor, naturalmente, mas esse às vezes é um luxo, como a alegria, que poucos se permitem.

Seja como for, com alguma sorte e boa vontade a alma do outro pode também ser a doce fonte da vida.

O GALO E A PROPINA

André Petry

"Como é possível que decisões lunáticas e esdrúxulas não chamem a atenção de ninguém dentro dos tribunais? Como pode passar em brancas nuvens um favorecimento tão ilógico quanto escancarado?"

Parece piada, mas não é. Há poucas semanas, a juíza Mônica Machado, da comarca de Paracambi, cidade de 40.000 habitantes no interior do Rio de Janeiro, produziu uma sentença na qual destila seu ódio pessoal a um galo que cantarolou numa madrugada perturbando seu sono. Na sentença, a juíza detalha seu infortúnio, informa que o galo cantou "ininterruptamente das 2h às 4h30 da madrugada" e diz que tal fato lhe causou "perplexidade, já que aves não cantam na escuridão, com exceção das corujas". Em seguida, ainda no corpo da sentença, a juíza diz que tentou descobrir em que casa da vizinhança vivia "o tal galo esquizofrênico", mas não conseguiu. E então decide: como o processo que deveria analisar envolve uma briga de vizinhos acerca de um galo que canta à noite, a magistrada passou a desconfiar que se tratava do mesmo galo que lhe perturbou – e, com isso, declara-se impedida de julgar o assunto. Ela explica: "Considerando que esta magistrada nutre um sentimento de aversão ao referido galo e, se dependesse de sua vontade, o galo já teria virado canja há muito tempo, não há como apreciar o pedido com imparcialidade".

No estado democrático de direito, os juízes devem desfrutar a mais ampla liberdade para decidir – inclusive para decidir errado ou para acusar galos de esquizofrenia, como quis a doutora Mônica Machado. A ampla liberdade de decisão dos juízes, no entanto, não pode ser confundida com a liberdade para delinqüir. Essa é a confusão que tem contribuído para apodrecer uma banda da Justiça. Nos inquéritos policiais, que resultaram nas gigantescas operações da semana passada, há passagens exemplares desse dilema.

O caso do desembargador José Eduardo Carreira Alvim, preso em Brasília, é lapidar. Ele é autor de uma decisão – propina de 1 milhão de reais, segundo a polícia – lunática. Concedeu uma liminar a favor de um recurso que ainda nem existia! Inventou a "liminar em recurso futuro". O ministro Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça, também sob investigação, deu uma liminar – propina de 600.000 reais, diz a polícia – em uma decisão à qual o procurador-geral da República se referiu como "esdrúxula" e de "conteúdo estranho".

A pergunta é: como é possível que decisões lunáticas e esdrúxulas não chamem a atenção de ninguém dentro dos tribunais? Como pode passar em brancas nuvens um favorecimento tão ilógico quanto escancarado? Não deveria haver algum mecanismo interno, criado pela própria Justiça, para fazer soar o alarme diante de situações tão suspeitas? Claramente, as corregedorias dos tribunais e mesmo o Conselho Nacional de Justiça não têm se debruçado sobre essa questão. As decisões de Carreira Alvim e de Medina foram revogadas mais tarde, mas isso não esgota o assunto: as liminares saíram, surtiram efeito e acabaram cassadas como se fossem decisões judiciais corriqueiras. Não eram. Enquanto juízes ameaçam galos de virar sopa, o país perde só tempo. Quando se corrompem, o país perde o rumo.

O LEÃO

Millôr

Nunca tantos deveram tanto a tão pôrcos.

Acabemos com o símbolo, já que a defesa do meio ambiente não permite acabar com o real.
Uma vez por ano, vez que se prolonga durante meses em aflições por parte do cidadão, provocadas por ameaças masoquistas da parte dos sempiternos burocratas no poder (Gogol é imortal!), lá vem, caminhando e rugindo na selva selvaggia da informática arrecadadora, o Leão predatório da Receita Federal. Cometendo, entra ano sai ano, os erros mais crassos (inimputáveis) em seus rugidos, o Leão não permite o menor desvio ou erro, considerados crimes hediondos, inafiançáveis e imprescritíveis, quando cometidos pelo cidadão. Somos os eternos carneiros da eterna fábula: "Não interessa se você bebeu da água abaixo da corrente. O fato é que deletou minha água, interrompeu o fluxo hidráulico do nosso banco de dados. E, se não foi você, foi seu pai, seu filho, seu neto nesse nepotismo irrefreável dos nerds. Vai pagar multa, ter seus bens penhorados, vai ser chicoteado, condenado à prisão perpétua e, quando esta acabar, executado".

Aí o fiduciário monstro abre a goela gigantesca, e todos nós, apavorados, começamos a fazer declarações que nos incriminam (coisa proibida pela lei penal), revelando até o último centavo a nossa renda, pra que sobre ela caia o imposto (in)devido.

Bem, vamos deixar de lado o imposto de renda propriamente dito (o mais injusto dos impostos, um bonde errado social em que o mundo inteiro embarcou achando que os ricos iam mesmo pagar igual) pra falar só no Leão, seu detestável e caricato símbolo brasileiro.

Se estamos numa democracia – mesmo feita com farinha de mandioca misturada com urina – esse símbolo deve ser imediatamente eliminado da logotipia oficial. Ele ruge odiosamente, como se fôssemos todos criminosos (o país ainda tem duas ou três pessoas que não o são), numa publicidade sempre grosseira, e humilhante pro contribuinte (leia-se extorquido). Fim com ele, Leon-liberalismo!

O leão é o símbolo maior da heráldica, e, como já lembramos, o mais prepotente, odioso, animal das fábulas.

E, se deixarmos os leões simbólicos e os selvagens e ficarmos apenas com os históricos, como os dos circos romanos, aí a coisa piora. Esses leões só entravam na arena pra perseguir, mutilar e devorar os pobres, os famintos, os cristãos. Nunca se viu um leão comendo um Jader Barbalho. Ou um Paulo Maluf, pelo menos.

26 abril 2007

PREFEITURA DE SÃO PAULO INFLUENCIA JOGO DE 2010

KENNEDY ALENCAR

A disputa pela Prefeitura de São Paulo no ano que vem ajudará a moldar os planos eleitorais para 2010 dos quatro principais partidos do país: PT, PSDB, PMDB e DEM (ex-PFL).

É um chavão da política, algo com ares de lei eleitoral, dizer que os pleitos municipais servem de prévia da disputa presidencial que ocorre dois anos depois. Nem sempre. Em 2004, o PT perdeu a capital paulista. Em 2006, Lula se reelegeu após a tremenda crise do escândalo do mensalão.

No entanto, as articulações em curso pelo Poder Executivo paulistano revelam muito sobre o futuro dessas quatro legendas.

No PT, a ministra do Turismo, Marta Suplicy, seria a candidatura natural. Ela já foi prefeita da cidade (2001-2004).

Marta, porém, colocou-se fora do páreo. Argumentou que o convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que integrasse o primeiro escalão exigia um compromisso com um horizonte de quatro anos.

A ministra declarou que seu objetivo é disputar o governo de São Paulo em 2010. Com isso, gera menor possibilidade de atritos políticos do que se tivesse assumido o desejo de concorrer ao Palácio do Planalto.

Foi um posicionamento hábil. Se o PT e Lula quiserem que ela dispute a prefeitura, terão de pedir. E ela estará liberada. Se tiver êxito no Turismo e costurar apoios políticos no PT e com aliados, poderá ser candidata ao governo paulista ou à Presidência - esta última postulação é algo que depende menos de vontade pessoal e mais das circunstâncias.

Lembrete: há outros presidenciáveis no PT, como o governador da Bahia, Jaques Wagner, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias.

Se Marta não concorrer em 2008, o PT lançará um candidato com menos chance. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), está de olho na vaga. Galgou posições no petismo com a eleição para comandar a Câmara, aproveitando-se da queda em série de caciques do partido em São Paulo. Começou bem sua gestão, mas está se perdendo. Quer proibir um deputado de usar chapéu de couro e resolveu afastar os jornalistas de perto do plenário da Casa.

Uma novidade que pode surgir é o lançamento da candidatura de Fernando Haddad, ministro da Educação. Nesta semana, será lançado o PAC da Educação, uma das apostas do presidente no segundo mandato. Técnico competente, Haddad está em alta no governo. Lula gosta dele. Já teve gente que ouviu o presidente dizer que ele poderia ser candidato a prefeito pelo PT.

No PSDB, a disputa pela Prefeitura de São Paulo também terá alta relevância. O governador do Estado, o tucano José Serra, deseja que seu partido apóie a tentativa de reeleição de Gilberto Kassab (DEM).

Serra sabe que Kassab tem pouca chance. Desgastou-se em episódios recentes, mas ganhou pontos ao tirar outdoors e cartazes da capital. Uma eventual vitória do DEM seria uma conquista histórica da sigla, que se vitaminaria para 2010.

Mais: Kassab é um dos ferrenhos articuladores do apoio do DEM a Serra em 2010. Daí o empenho do governador nos bastidores para ajudá-lo. Espera retribuição futura, o que é legítimo e natural na política.

O ex-governador tucano Geraldo Alckmin, que perdeu a eleição presidencial para Lula, ameaça os planos de Serra. Deve se candidatar à prefeitura com o objetivo de se manter vivo no jogo político. O êxito dessa empreitada tende a favorecer o projeto presidencial do governador de Minas, o também tucano Aécio Neves.

Atualmente, Serra está mais bem posicionado nas pesquisas do que Aécio. O governador paulista terá o relevante argumento de que o lançamento de Alckmin em 2002, que tinha menos cacife nas pesquisas do que ele, Serra, é um fator favorável à sua pretensão de concorrer ao Palácio do Planalto. Seria um erro, pensam os serristas, o PSDB repetir tal estratégia.

Já Aécio joga com uma maior capacidade de aglutinação política. Tem ótimas relações com o PMDB e com setores do DEM. O próprio Lula já sinalizou a auxiliares que não acharia ruim uma vitória de Aécio em 2010. Até lá, o mineiro terá tempo para se projetar mais nacionalmente e aumentar sua intenção de voto nas pesquisas.

Para o PMDB, a disputa paulistana será uma espécie de novo teste da aliança preferencial entre o partido e o PT. As duas legendas estão se matando nos bastidores pela partilha de cargos no segundo escalão de Lula.

Em 2004, não foi possível uma união oficial entre petistas e peemedebistas em São Paulo. O sonho do PMDB é ser para Lula e o PT o que o PFL (hoje DEM) foi para o tucano Fernando Henrique Cardoso durante sete de seus oito anos de poder. FHC foi presidente entre 1995 e 2002.

O sonho do PMDB é virar o aliado principal do PT. Aquela força política que receberá a maior fatia de cargos e benesses públicas ao apoiar um projeto presidencial, recebendo ainda apoio em disputas estaduais em que tiver mais chance do que os petistas.

Para enfrentar os tucanos daqui a quatro anos, o PT avalia que precisará do apoio oficial do PMDB. PSB e PC do B, aliados tradicionais do petista, trabalham pelo lançamento do ex-ministro e deputado federal Ciro Gomes (CE) à Presidência.
Para petistas e peemedebistas, as eleições municipais podem ser o noivado do casamento eleitoral de 2010.

UNANIMIDADE NEM SEMPRE É BURRA

Eliane Cantanhêde

Lula certamente discorda da máxima de que "toda unanimidade é burra", porque ele só pensa nisso: maioria não basta; bom mesmo é unanimidade.

Basta ver os passos políticos do presidente nesse segundo mandato, quando ele calou as críticas do PT, amealhou todos os partidos mensaleiros da direita, embolsou o PMDB inteiro (com Temer, Geddel, Padilha e Moreira Franco junto) e agora joga todo o seu charme (sabe-se lá mais o quê...) em cima do PSDB.

E não é apenas uma questão de partidos, mas também dos grandes (para o bem e para o mal) nomes da política. Paulo Maluf, Jader Barbalho, Collor, agora ACM e líderes tucanos escolhidos a dedo no Congresso já estão todos no papo. A hora agora é de atrair Tasso Jereissati, Aécio Neves, José Serra e já há planos para o refratário FHC mais adiante.

Quando Lula perdeu para Collor em 1989, posicionou-se como o mais vigoroso opositor e foi um dos personagens-chave no impeachment. Quando Lula perdeu para FHC em 1994 e depois em 1998, também ficou na linha de frente da oposição - uma oposição que gritava "Fora FHC" e espalhou a versão, falsa, de que se tratava de um dos governos mais corruptos das galáxias.

Agora, quando a situação se inverte, e Lula é o vencedor, ele quer que os perdedores sejam o oposto do que ele foi. Ciro Gomes perdeu em 2002 e virou ministro. José Serra também perdeu e agora é alvo de gestos e palavras de simpatia de Lula, de Mantega, de Dilma, de Henrique Meirelles. E Aécio, que não perdeu nada, mas poderia fazer barulho na oposição, também só recebe mimos.

A oposição que Lula fez aos outros governos, portanto, não existe mais. Antes, oposição boa era a que derrubava governos e chamava todo mundo de ladrão. Agora, oposição boa é a que esquece rápido o mensalão, a compra de dossiês, os caseiros, as turmas das prefeituras isso e aquilo, negociando "patrioticamente" com o governo federal para o bem do país e do povo...

Lula, enfim, achava que era oposição era fundamental e era preciso criticar, cobrar, provocar, pressionar enquanto os presidentes eram os outros. Agora, acha que é preciso compor, relevar, negociar, passar panos quentes, quanto o presidente é ele próprio.

Sei não, mas do jeito que a coisa vai, só vai sobrar um partido na oposição, o Democratas, ex-PFL. E, assim mesmo, pela metade. ACM já caiu na rede. Só sobrou Bornhausen, o último dos moicanos.

Para Lula, unanimidade não tem nada de burra. Ao contrário, é pura questão de lábia e de esperteza. E 2010 vem aí.

FALA DE FHC

"O povo está olhando para nós e dizendo: o que você são, peixe ou carne de vaca? Nós temos que dizer para o povo o que somos!"
(FHC em entrevista à Boris Casoy, criticando a aproximação do PSDB com Lula)

EDUCAÇÃO E ÁGUA BENTA

CLÓVIS ROSSI

O elementar bom senso indica que o recém-lançado Plano de Desenvolvimento da Educação vai no bom caminho. Contam ainda os fatos de que o ministro da Educação, Fernando Haddad, é do ramo e sua gestão não tem merecido críticas, pelo menos não estridentes como as que atingem quase todos os setores da administração federal.

Mas aí leio na Folha que dois dos antecessores de Haddad, igualmente do ramo, têm avaliações opostas. O tucano Paulo Renato elogia a parte relativa ao ensino básico e diz que é "um verdadeiro plano". Já Cristovam Buarque (PDT) critica o pedaço que Paulo Renato elogiou.

Se especialistas conseguem ver azul onde outro enxerga amarelo, ou vice-versa, fica muito difícil para o resto do público, na grande maioria leigo, entender o que é e para que serve o PDE.

De minha parte, a principal objeção não é sobre o plano em si, mas diz respeito ao controle que tem que haver sobre as prefeituras que terão a maior responsabilidade na sua execução.

Em um país em que o trambique se tornou esporte nacional, que garantia pode haver de que os prefeitos não falsificarão resultados ou não fabricarão bons alunos para receber o R$ 1 bilhão que irá para os municípios com piores indicadores educacionais?

Volto à questão que me parece a chave da crise brasileira: o poder público deixou de ser público, em todas as suas vertentes, e gira em torno dos interesses de seus ocupantes ocasionais ou semi-permanentes (há famílias que estão no poder, estadual ou municipal, há uns 500 anos).

Se tem gente que frauda até o Bolsa-Família, para embolsar a miséria de no máximo R$ 90, o que esperar quando o valor é mais suculento? Tomara que me engane, mas precaução e água benta, muita água benta, aliás, são essenciais no Brasil quando se trata de planos e dinheiro públicos.

SAPOS E PRINCÍPIOS

Eliane Catanhêde

Não é de hoje que Lula e Marina Silva se estranham e que o Ministério do Meio Ambiente vive uma guerra de todos (do governo) contra um. Apesar disso, Lula critica, mas nunca demitiu Marina, e Marina nunca pediu demissão. É difícil para leigos saber quem tem razão: se Lula, que precisa do PAC, que precisa de energia, que precisa de hidrelétricas no rio Madeira; ou se Marina, que tem prestígio internacional, bate pé firme na defesa do ambiente e é acusada de "excessos" ou de "purismo".

O fato é que Lula há tempos reclama que o Meio Ambiente atrasa obras e só cria problemas -"atravanca o progresso", como diria o outro. O ministério não parece parte do governo, mas uma ilha de resistência a ele. E, como frisou Marina à Folha em 2003, primeiro ano de governo, ela pode até engolir sapos, mas "não engole princípios".

O impasse é antigo, mas, desta vez, Lula e Marina concordam num ponto-chave: o Ibama é um órgão cheio de vícios, marcado pela corrupção, de um lado, e pela inexperiência ou pelo romantismo infantil, de outro. E, podem não acreditar, mas Marina já tinha decidido mudá-lo antes mesmo do parecer contrário às hidrelétricas do rio Madeira, gota d'água na irritação de Lula. Com a crise, porém, fica a versão de que faz por imposição. Ou seja, de que "engole princípios".

Há várias dúvidas. A primeira é quanto ao próprio Ibama, que já tinha perdido as florestas, está perdendo as unidades de conservação e vai ser presidido pelo delegado Paulo Lacerda (PF). Vai virar o que então? Só fiscalização?

A outra pergunta é quanto ao destino de Marina, fragilizada internamente, mas com forte apoio externo. Então, tudo continua como dantes: nem Lula demite, nem Marina se demite. Se com Waldir Pires já é assim, mais ainda será com a herdeira de Chico Mendes e justamente quando o mundo inteiro só fala em aquecimento global.

EDUCAÇÃO BÁSICA NA UTI

No Ideb, 'pior' cidade raspa nota zero; maioria tira menos de 5
UOL

O governo federal divulga nesta quinta (26) os dados e metas do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), indicador criado para orientar o direcionamento de verbas da educação. Para todos os níveis de administração (municipais, estaduais e as próprias escolas), o cumprimento das metas do Ideb implicará o recebimento de mais dinheiro.

A situação atual do ensino é dramática. Apenas uma minoria de cidades (243) conseguiu obter, nas duas etapas (1ª a 4ª séries e 5ª a 8ª séries) do ensino fundamental oferecido pelas redes municipais, um Ideb igual ou superior a 5 (a escala vai de zero a dez). Com Ideb inferior a 5, da 1ª à 4ª série foram 4.112 das 4.349 cidades avaliadas. Na fase da 5ª à 8ª série, o total de municípios com Ideb inferior a 5 foi de 2.453, entre os 2.467 avaliados.

Ou seja, praticamente todas as cidades do Brasil - o que inclui capitais ricas do Sudeste e Sul do país - estariam reprovadas numa hipotética prova de final de ano.

O pior Ideb municipal encontrado foi de 0,3 e o melhor, de 6,8. O mecanismo do Ideb faz parte do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, na terça (24).

O Ideb atual dos municípios, Estados e do Brasil em geral foi calculado com base em dados de 2005 da Prova Brasil e do Saeb, avaliações conduzidas pelo MEC a cada dois anos. Há metas de Ideb para serem atingidas nas avaliações deste ano, na de 2009, 2011 e assim por diante, até a meta "final", em 2021. Numa escala de zero a dez, o Brasil tem hoje um Ideb médio de 3,8 na primeira fase do ensino fundamental (1ª a 4ª séries), de 3,5 na segunda (5ª a 8ª séries) e 3,4 no ensino médio (antigo colegial).

As metas para 2021 são de chegar a 6 na 1ª fase do fundamental, 5,5 na 2ª e 5,2 no ensino médio.

Estados
As metas do Ideb para os Estados variam de acordo com o patamar em que se encontravam em 2005. O indicador avalia o desempenho das redes estaduais de ensino.

Por exemplo, da 1ª à 4ª série, Rio Grande do Norte, Piauí e Bahia têm o Ideb mais baixo em 2005: os três partem de 2,6 e devem chegar a 4,8 (RN e PI) e 4,9 (BA) daqui 14 anos.

Já o Paraná parte de um Ideb de 5, o maior na 1ª fase do fundamental, e deve chegar a 6,9 em 2021.

Da 5ª à 8ª série, o Estado com o pior Ideb atual é Pernambuco, que atinge 2,4. Em 2021, deve chegar a 4,9. Já São Paulo tem o Ideb mais alto, de 3,6, e em 2021 deverá chegar a 5,8.

No ensino médio, Piauí e Amazonas partem do índice mais baixo, de 2,3, e precisam atingir um Ideb de 4,1 e 4, respectivamente, daqui a 14 anos.

O melhor Ideb inicial é o de Santa Catarina, com 3,5. Sua meta é chegar a 5,3 em 2021.

Municípios
Os números do Ideb no nível das cidades avaliam as redes municipais, e por isso não há dados para o ensino médio, que é exclusividade dos governos estaduais.

A cidade com pior Ideb da 1ª à 4ª série é Ramilândia, no Paraná. Ela parte de apenas 0,3 e precisa chegar a 5,4 em 2021. Barra do Chapéu, em São Paulo, tem o melhor Ideb inicial, de 6,8, e deve chegar a 8,1 em 2021.

Nesta fase do ensino fundamental, foram quatro cidades com Ideb menor ou igual a 1.

Com nota entre 1 e 2 foram 104 cidades. Já os Idebs entre 3 e 4 foram registrados em 2.710 municípios; entre 4 e 5, em 1.294; entre 5 e 6, em 225.

As melhores notas ficaram na faixa entre 6 e 7, e foram obtidas por apenas oito cidades.

Da 5ª à 8ª série, o pior Ideb é de Maiquinique, na Bahia, também de 0,3. Sua meta para 2021 é 4,4. O melhor Ideb é o do município paulista de Porto Ferreira, de 5,9, com meta de 7,4.

Na segunda fase do fundamental, três municípios tiveram Ideb menor ou igual a 1.

Os que obtiveram Ideb entre 1 e 2 foram 97. Com índice entre 2 e 3 foram 1.133; entre 3 e 4, o total de municípios foi de 930.

Os números são mais magros quando as faixas são as "melhores" registradas no levantamento: apenas 290 municípios ficaram com Ideb entre 4 e 5, e somente dez alcançaram índice entre 5 e 6 - faixa mais alta registrada nessa fase do ensino fundamental.

A comparação do Ideb atual com a meta de 2021 mostra que as localidades com pior nível de ensino atual terão de dar um salto de qualidade muito amplo (por exemplo, 5,1 pontos no caso de Ramilândia), enquanto as com Ideb inicial mais alto precisam crescer menos (1,3 ponto no caso de Barra do Chapéu).

25 abril 2007

COLUNA

Minha Coluna desta semana, no Paraná Jornal, de Astorga:

PEQUENA PROPRIEDADE RURAL
Enquanto a cultura da soja e da cana avança sobre as pequenas propriedades, engolindo o pequeno produtor, que aguarda uma alternativa para sua sobrevivência no campo; ou o governo entra prá valer oferecendo uma alternativa para alavancar o setor, ou teremos num futuro muito próximo um grande problema social; mas acredito que esta solução está próxima, pois o ministro da agricultura, Reinhold Stephanes, é sensível a este problema e principalmente às necessidades do pequeno produtor rural.
Agregar valor, unir as cadeias do pequeno agronegócio e viabilizar meios de comercialização pode ser a grande solução.

DEMOCRACIA DE CHÁVEZ
O intérprete de Lula foi barrado na reunião dos presidentes da América do Sul, na segunda-feira passada na Venezuela. O encontro fechado começou dessa maneira na democracia do senhor Hugo Chávez - intérpretes só os cedidos pelos venezuelanos. Apenas meia hora depois o brasileiro pôde entrar.

CELULAR EVANGÉLICO
De olho no potencial econômico dos evangélicos, a IBM e a Motorola uniram esforços para lançar no segundo semestre o Celular Gospel. Os aparelhos sairão de fábrica em formato de pequenas bíblias. Além de ringtones evangélicos, os donos desses aparelhos terão direito ao “salmo do dia”, a sermões on-line e a uma agenda com a programação gospel de shows e eventos.

BRASÍLIA DA COPA
Enquanto Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente, Maracanã e Morumbi, lutam pelas partidas da abertura e final da Copa do Mundo de 2014, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, entrou na briga por uma das partidas, em seu estádio Mane Garrincha.
Brasília tem grandes chances; além de Maracanã e Morumbi não atenderem às normas da Fifa, a capital tem uma respeitada infra-estrutura e o Mané Garrincha necessitaria de apenas 120 milhões de reais para se adequar às exigências.
Brasília merece.

FRASE
“Se vão desmilitarizar o controle aéreo, podem nomear o Beira-Mar como chefe. Ele mostrou lá em Catanduvas que sabe pôr ordem na casa.”
Demóstenes Torres, senador (DEM-GO), evocando o exemplo que o traficante tem dentro do presídio de segurança máxima.

REFLEXÃO "O covarde nunca tenta, o fracassado nunca termina e o vencedor nunca desiste."
Norman Vicent Peale

18 abril 2007

SENADO APROVA AJUDA DE US$ 10 MILHÕES PARA A BOLÍVIA

UOL

O Senado brasileiro aprovou uma ajuda de US$ 10 milhões para financiar projetos agrícolas e uma série de assentamentos rurais na Bolívia.

O dinheiro, previsto em projetos de cooperação que o Governo assinou com a Bolívia, será canalizado pelo Ministério das Relações Exteriores, através da Embaixada do Brasil em La Paz.

De acordo com o texto aprovado no Senado, "os recursos serão usados no fortalecimento da cooperação bilateral", com ênfase nas áreas de desenvolvimento agrícola e agricultura familiar.

O documento acrescenta que "o objetivo é prestar assistência na implantação de uma política de reforma agrária e ajudar na regularização migratória e no sustento de famílias brasileiras assentadas" em regiões de fronteira.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) afirmou que o Brasil, em sua condição de "líder regional", deve colaborar com os países mais pobres da América do Sul e ajudar estas nações a encontrarem caminhos para um maior desenvolvimento.

O auxílio foi aprovado pela ampla maioria governista com o apoio de partidos da oposição, que, apesar de votarem a favor da medida, lembraram as polêmicas surgidas com a Bolívia por causa da nacionalização de hidrocarbonetos no país, que afetou os interesses da Petrobras.

Para o senador José Agripino (DEM-RN, ex-PFL), a ajuda "é necessária", mas é um "incômodo" concedê-la a um país que "criou tantos problemas para a Petrobras".

A IMPRENSA 2

Do Ex-Blog de César Maia:

JORNALISMO POR OMISSÃO OU OCULTAMENTO

1. Em geral se analisa a ação da imprensa pelo que publica. Mas há uma análise que deve ser feita e que é tão importante quanto a primeira. É a que trata dosfatos relevantes que não se publicam ou que se publicam de forma a ocultá-los num canto de página interna ou num "caco" em rádio ou TV.

2. Isso em geral ocorre quando o meio de comunicação passa a ser porta voz de um tema ou quando escolhe seus porta vozes intelectuais, políticos, econômicos ou sociais preferenciais.

3. Sempre que um fato relevante contraria a sua linha - digamos e no sentido comum do termo- ideológica, esse fato, mesmo que relevante é omitido ou ocultado.

4. Para quem acessa vários meios de comunicação isso é irrelevante. Um cobre o que o outro não cobriu. Mas quando - o que acontece em geral - se acessa apenas um meio de comunicação de um tipo de mídia, a omissão ou o ocultamento, é grave.

5. Desinformar, é certamente informar. Em geral isso se demonstra mais facilmente, lendo os editoriais e depois vendo o noticiário omitir ou ocultar, os fatos que contrariam o editorial. Com isso de desfaz a idéia que o noticiário é de jornalismo aberto e que o editorial opina.

6. Em grande medida - omissão e ocultamento - fazem parte da família de tipos de notícia que esse Ex-Blog tratou um tempo atrás, como pseudo-fato,verossimilhança, etc.

7. E muito mais discreto. E perigoso. Esse tipo de desinformação tem crescido no último ano. Se você acessa normalmente mais de um meio de comunicação, preste atenção. Quase todo dia verá isso ocorrer.

O BRASIL E O DESEMPREGO

Do Ex-Blog de César Maia:

DESEMPREGO:
1) Brasil precisa crescer 5,4%.
2) Jovens são metade dosdesempregados.
3) Desempregados mais que dobram em 11 anos.


1) Brasil precisa crescer 5,4% só para conter desemprego
Levantamento do economista Márcio Pochmann conclui que alta de 4% no PIB não consegue atender à demanda. O desemprego não deverá dar trégua em 2007, mesmo que o País consiga crescer os 4% esperados pelo governo. Só para abrigar as 3,2milhões de pessoas que normalmente entram no mercado de trabalho, o Produto Interno Bruto (PIB) precisaria aumentar 4,7%. Além do número maior de pessoas disputando vagas, o mercado perde anualmente 460 mil vagas, que são fechadas por força de ganhos de produtividade e inovação tecnológica no campo e nas cidades.

Para garantir a abertura dos 3,6 milhões de empregos necessários para deter o avanço da desocupação, a economia teria de crescer 5,4%.


2) Jovens estudam cada vez mais. E são metade dos desempregados.
Um em cada dois desempregados tem menos de 25 anos; chances de encontrar emprego são cada vez menores.

O desemprego, que já atinge mais de 9 milhões de brasileiros, afeta principalmente os jovens. Um em cada dois desempregados tem menos de 25 anos de idade, segundo estudo do economista Márcio Pochmann, daUniversidade Estadual de Campinas (Unicamp).


3) Numero de desempregados no Brasil:
1995: 4,5 milhões.
1996: 5,1 milhões.
1997: 5,9 milhões.
1998: 6,9 milhões.
1999: 7,6 milhões.
2001: 7,8 milhões.
2002: 7,9 milhões.
2003: 8,6 milhões.
2004: 8,2 milhões.
2005: 8,9 milhões.
2006: 9,4 milhões.

A IMPRENSA

Do Ex-Blog de César Maia:

PRAZO DE CARÊNCIA AOS GOVERNOS ESTADUAIS E O FOGO DE ARTIFÍCIO AMIGO

01. Tem sido praxe da imprensa dar um prazo de carência aos novos governos. Ou seja, encilhar as armas do noticiário crítico dando tempo a que o novo governo possa abrir as gavetas, conhecer a realidade interna da máquina e definir prioridades de curto e médio prazo em base ao que conheceu. Tudo bem. Essa é uma prática saudável. Embora a imprensa tenda a super dimensionar o impacto de seu noticiário crítico.

02. Mas deve-se ter um cuidado muito grande em definir a fronteira entre o encilhamento das armas e os fogos de artifício.

03. Na política, o ponto ótimo é quando os governos conseguem reduzir ao ponto certo às expectativas, de forma a que suas ações as ultrapassem e com isso auto conquistem um apoio suficiente para ir ampliando e intensificando suas ações. Essa dialética entre expectativas e realizações deve ser dinâmica e crescente de forma a que se ajuste à capacidade que o próprio governo vai adquirindo em transformar projetos e idéias em realidades.

04. Quando a vontade da imprensa em ajudar transforma a carência em fogos de artifício, termina por exacerbar as expectativas dificultando a vida do próprio governo que quer ajudar a alavancar. Com isso, os governos tendem a transformar suas idéias para o médio e longo prazos em promessas para o curto prazo, ocupando todos os espaços coloridos que lhes são oferecidos pela generosidade da imprensa. Mas, com isso, há um alto risco de frustrá-las nesse curto prazo. Com expectativas muito altas a probabilidade de frustração é grande também. Existem casos de bons governos que tropeçaram nas expectativas que criaram.

Em política há dois tipos de "fogo amigo". Aquele dos que ciscam para dentro, ou seja as forças críticas centrípetas partidárias. E há o "fogo amigo" fazendo tudo para ajudar. É o "fogo de artifício amigo".

17 abril 2007

COLUNA

Minha Coluna desta semana, no Paraná Jornal de Astorga:

PRESÍDIO FEDERAL NAS MÃOS DE BEIRA-MAR
José Maschio, repórter da Folha de S. Paulo com base em Londrina, teve acesso ao relatório da Polícia Federal que revela a zorra em que se encontra a Penitenciária Federal de Catanduvas, que é de segurança máxima e foi inaugurada com discurso de que seria o início da solução para o sistema prisional no Brasil.

Fernandinho Beira-Mar já é o líder dos 140 presos, é dono de um táxi na cidade de Cascavel, que é usado para locomoção de visitantes até o presídio, também alugou dois apartamentos em Catanduvas para abrigar parentes dos presidiários.

A direção do presídio e os agentes penitenciários vivem em guerra, sem contar a presença de agentes com antecedentes criminais que vão desde pequenos delitos a tráfico de drogas, homicídio e atentado violento ao pudor, e deveriam estar presos, não tomando conta de bandido.
Detalhe: todos os agentes foram contratados recentemente.

É o Brasil!
A matéria está na Folha de S. Paulo da última segunda-feira (16).

R$ 3 MILHÕES DESPERDIÇADOS
Márcia Lopes, secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, disse no plenário da Assembléia Legislativa no dia 16, segunda-feira, que o Paraná deixou de aplicar no ano passado R$ 3 milhões de verbas federais por falta de projetos.

O deputado Jocelito Canto (PTB) aproveitou a deixa e sapecou. "Para um governo que se pauta pela Carta de Puebla, é muito estranho desperdiçar tanto dinheiro."

Aí perguntamos, de quem será a ineficiência: do governo estadual ou federal?
Mas isto não faz diferença, no final das contas quem paga o preço é sempre o povo, não importa quem foi ineficiente.


PEQUENO AGRONEGÓCIO
O Ministro da Agricultura Reinhold Stephanes tem dentre suas prioridade o pequeno agronegócio, o que irá beneficiar regiões como a nossa, onde o plantio de cana tem avançado e tomado a maioria das grandes propriedades, deixando pequenos produtores rurais sem muitas opções. Mas, com a vontade do ministro em viabilizar este importante segmento da agricultura, daremos um grande passo para a transformação do país através do campo, e isto poderá começar por nossa cidade.


REFLEXÃO
Laços familiares devem ser valorizados.
Senhor, abençoe todas as famílias Astorguenses, e aquelas que virão a ser. Que haja carinho, amizade, respeito e união.

DEPUTADO VAI AO STF PELO DIREITO DE USAR CHAPÉU

Do Blog de Josias de Souza:

DivulgaçãoConforme já noticiado aqui no blog, o STF tornou-se o supremo retrato do caos do Judiciário. Os 11 ministros que integram o tribunal recebem anualmente uma média de 10 mil novos processos para julgar. Em 2007, as estatísticas do Supremo, já obesas, serão engordadas por um processo inusitado.

O deputado Edigar Mão Branca (PV-BA) impetrou no STF um mandado de segurança em que pede, veja você, que lhe seja assegurado o direito de trafegar pelos corredores do Legislativo com a cabeça guarnecida por um chapéu de vaqueiro. Alega que o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), está na bica de baixar um ato proibindo-o de usar o apetrecho.

Mão Branca sustenta no mandado de segurança que, desde o dia em que tomou posse, vem usando o chapéu de couro, inclusive em plenário. Anota que atribui à peça um valor inestimável: “O chapéu”, escreve ele, “é um acessório importante de vestimenta para caracterizar a personalidade de uma determinada pessoa por meio de suas diferentes formas, materiais e cores”.

O deputado completa: “O uso do chapéu de couro está diretamente relacionado com a bravura do vaqueiro nordestino que, para o seu trabalho, utiliza o chapéu como proteção do sol e dos golpes dos espinhos e dos galhos da caatinga e, às vezes, utiliza a sua copa para beber água ou comer”.

Curiosamente, não há vestígio de raios solares no interior do prédio do Congresso. Tampouco há notícia de que a selva do Legislativo sujeite os congressistas a golpes de espinho ou de galhos da caatinga. De resto, há fartura de copos e pratos no Parlamento.

Assim, resta a impressão de que o objetivo do deputado é menos o de assegurar um direito e mais o de aparecer a qualquer custo. Cabe, de resto, uma pergunta singela: às voltas com tantas transgressões à ética e à moral, por que diabos a Câmara perde tempo com o chapéu do deputado Mão Branca? Sob o telhado de vidro em que se encontra, a Mesa diretora da Câmara flerta com o ridículo coletivo ao cogitar a proibição do direito de Mão Branca ao exercício individual do grotesco.

15 abril 2007

REELEIÇÃO É INSTRUMENTO DE CONTROLE DOS ELEITORES

Folha de São Paulo

Para cientista político da USP, embora tenha problemas como o uso da máquina pública para fins eleitorais, mecanismo permite à população julgar governante

O uso da máquina pública e a confusão entre a figura do governante e a do candidato são riscos trazidos pela reeleição, mas vale a pena pagar esse preço, afirma o professor do Departamento de Ciência Política da USP Fernando Papaterra Limongi.
Para ele, a instituição da reeleição no Brasil trouxe benefícios ao sistema político brasileiro. O principal, segundo ele, é o advento de um instrumento de controle do eleitor: "Se o governante foi mal, ele dança".

Outro igualmente importante, aponta o professor, seriam as pesquisas que mostram que, após a instituição da reeleição, prefeitos em primeiro mandato passaram a respeitar mais a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Rebatendo crítica recorrente entre críticos da reeleição, o cientista político argumenta que os partidos no Brasil não têm condições de gerar novas lideranças a cada quatro anos.

Contrário à ampliação do mandato do Executivo de quatro para cinco anos - outra mudança que estaria em discussão entre tucanos e petistas-, Limongi não acredita, no entanto, que as propostas noticiadas tenham alguma viabilidade. Para ele, que não consegue identificar qual seria o interesse do PT no tema, elas não passam de um "balão de ensaio".

FOLHA - Qual é a posição do sr. em relação ao fim da reeleição?
FERNANDO LIMONGI - Sou favorável à reeleição. Se o político está desempenhando bem a sua função, por que não reelegê-lo? Ao proibir a reeleição, tira-se o principal instrumento de controle sobre o político. A possibilidade de recondução é um incentivo ao bom político.

FOLHA - E o que o sr. acha da proposta de ampliação do mandato no Poder Executivo de quatro para cinco anos?
LIMONGI - Seria um erro crasso, violento. O descompasso entre a eleição para o Executivo e a do Legislativo criaria um problema como o que ocorreu no governo [Fernando] Collor [1990-1992]. Quando ele tomou posse, os deputados tinham apenas mais um ano de mandato. Isso é péssimo para um presidente, porque ele fica com um Legislativo que só pensa na eleição. Se a mudança do tempo de mandato não se estender aos governos estaduais, o erro será mais grave ainda, pois vai tornar a eleição legislativa ainda mais estadualizada do que já é. Não há nenhum ganho institucional nessa medida. Além disso, o Brasil tem mudado muito suas regras para as eleições. Nós não temos dois pleitos com as mesmas regras desde que nós voltamos à democracia.

FOLHA - Como controlar o uso da máquina pública pelo governante que disputa o segundo mandato?
LIMONGI - Esse é o principal problema. Há dados que mostram que o político que tenta a reeleição tem poucas chances de perder. Mas isso não leva a nenhum descalabro. Muitos também perderam. O uso da máquina pública aconteceu com Lula e com FHC, porque é muito difícil distinguir o ocupante do cargo do candidato. Mas é uma faca de dois gumes: se o governante estiver indo mal, ele dança. Ainda assim, com certeza estar no cargo é uma vantagem muito grande, mas eu acho que vale a pena pagar o preço. Estabiliza, dá um horizonte maior. E, se pisar na bola, a pessoa é posta para fora. E ainda serve de exemplo para outros políticos. Foi assim com a Marta [Suplicy, prefeita de São Paulo entre 2001 e 2004, derrotada na reeleição por José Serra]. Se o candidato do PT fosse outro, não seria a mesma mensagem. Poderiam dizer: "A Marta não conseguiu transmitir sua popularidade para o candidato do partido à sucessão". Além disso, é possível criar instrumentos de fiscalização que permitam controle maior sobre o candidato à reeleição. É verdade que ele tem vantagens sobre os outros. Não é o melhor dos mundos, mas é a melhor opção possível entre perdas e ganhos. E, como só há a possibilidade de uma reeleição, cria-se um bom meio-termo.

FOLHA - A reeleição não impede a renovação dos líderes políticos?
LIMONGI - A necessidade de renovação muito rápida é ruim. É só lembrar a destruição do PMDB de São Paulo -ela ocorreu pela incapacidade do Quércia de formar um líder. É difícil gerar um líder em quatro anos. Por outro lado, pesquisas mostram que o prefeito que respeita a Lei de Responsabilidade Fiscal tem mais chance de ser reeleito. Ou seja, o instituto da reeleição foi acompanhado por um comportamento mais responsável dos políticos. Se houver mudança [nas regras eleitorais], será para responder a um acordo político, não a um diagnóstico de que alguma coisa está indo mal.

FOLHA - Quais seriam os interesses do PT e do PSDB nessas mudanças?
LIMONGI - Consigo ver o interesse do PSDB: não havendo reeleição, seria possível Serra e Aécio Neves cederem a vez um ao outro. Cinco anos daria para um agüentar, mas oito não.Para o PT, não vejo qual seria o interesse. Acho que é um balão de ensaio, só para tomar nosso tempo. Não há nada de substantivo, não é uma resposta a nenhum anseio concreto.

MAIS DEMOCRACIA, NÃO MENOS

CLÓVIS ROSSI

A prisão do bicheiro Aílton Guimarães Jorge pode servir de excelente ajuda-memória ao leitor que, desesperado pela insegurança, pela corrupção e outros problemas mais, começa a clamar para volta dos militares. Quem é Guimarães, apelidado de "Capitão"? Foi, sim, capitão. Do Exército brasileiro. Destinado ao DOI-Codi, o brutal braço repressivo do regime militar, um dado dia, em vez de apreender um contrabando, passou a dedicar-se a ele e, em seguida, a outras atividades ilegais, já fora do Exército.

Claro que qualquer pessoa, em qualquer profissão, pode um dia tomar o caminho do crime. Mas o que funcionou como poderoso estímulo ao "capitão" Guimarães foi a licença dada pela ditadura para que o aparelho repressivo (Forças Armadas e polícias) prendesse arbitrariamente, torturasse livremente, matasse e/ou fizesse desaparecer cidadãos.

Quando se permite ou até se estimula a violação da lei, em nome da defesa do Estado, fica implícito que agentes do Estado podem violar outras leis para proveito próprio. É assim que se fabricam "capitães" Guimarães, foi assim que se ampliou a corrupção no aparelho policial em geral. Mais detalhes -e abundantes detalhes- estão nos imperdíveis livros de Elio Gaspari sobre o ciclo militar.

Claro que a insegurança e o crescimento do crime organizado não se devem exclusivamente a esse fator. Mas é igualmente claro que, em matéria de insegurança, a ditadura é parte do problema, jamais parte da solução.

É verdade que a democracia não resolveu o problema. Ao contrário, foi durante a sua vigência que ele se tornou mais agudo. Mas a resposta não pode ser o retrocesso. A resposta é mais democracia, não menos democracia. Mais democracia envolve mais envolvimento do cidadão, hoje anestesiado. Dá trabalho, mas não tem substituto.

14 abril 2007

FRASES

De Veja:

"Se o presidente Lula estivesse no lugar de dom Pedro I no momento em que recebeu a correspondência às margens do Ipiranga, dificilmente teria proclamado a Independência. Provavelmente teria sugerido uma paradinha ali à beira do rio."
Marco Antonio Villa, historiador, sobre as decisões e indecisões presidenciais

"Ser famoso é coisa gravíssima e as pessoas lidam com leviandade. É um narcisismo muito louco."
Marisa Monte, cantora e celebridade das mais relutantes, em entrevista à próxima edição da revista Rolling Stone

A MOÇA DA LIVRARIA E A MALTA DO MARACANÃ

Roberto Pompeu de Toledo

Para muitos, no Brasil, saber o nome do papa ou de um ex-presidente não passa de pura perda de tempo

A personagem da semana, para o colunista que vos fala, é a moça que numa livraria de São Paulo atendeu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante uma noite de autógrafos. Sabe-se como são esses eventos. Compra-se o livro, e a pessoa que o vende, ou então uma outra, ao lado, pergunta o nome do comprador e o anota num papelzinho. O papel vai dentro do livro até as mãos do autor, para informá-lo do nome daqueles que não conhece, ao fazer a dedicatória, ou salvá-lo do desastre, no caso de esquecer o nome de algum conhecido. "Como é o seu nome?", perguntou a moça. "Fernando Henrique Cardoso", respondeu aquele senhor de gravata listrada, óculos e cabelos grisalhos. Ela então se dirigiu à senhora que o acompanhava. "E o seu nome, por favor?" "Ruth Cardoso." E vida que segue. "O próximo, por favor?"

O caso foi noticiado, sem descer à minúcia dos diálogos acima (na verdade, recriações deste autor), na coluna de Cesar Giobbi no jornal O Estado de S. Paulo. A moça não conhecia, ou não reconheceu, o ex-presidente. Se fosse uma secretária, e um dia Fernando Henrique Cardoso ligasse para falar com seu chefe, ela replicaria com aquela fatídica pergunta: "Fernando Henrique da onde?". A resposta ao da onde? é o abre-te-sésamo pelo qual a secretária (e seu chefe) saberá de que empresa, de que corporação, de que irmandade é o interlocutor, o que lhe conferirá uma existência mais palpável e o livrará da ignomínia de se constituir num avulso. Se fosse há alguns anos, Fernando Henrique responderia: "Da Presidência da República". A moça então comunicaria ao chefe: "Está na linha um tal Fernando Henrique Cardoso, da Presidência da República. O senhor atende?".

Não só ela. É de supor, com razoável possibilidade de acerto, que milhões de outras, e de outros, por este país continental afora, agiriam do mesmo modo. Nessa mesma semana que passou, uma pesquisa revelou que 51% dos brasileiros não sabem o nome do papa, e uma outra, que 59% nunca ouviram falar do PAC, o programa que o governo mais marqueteou neste ano. O mal não ataca só as camadas pobres. Este é o país em que uma ex-primeira-dama (deve-se revelar quem é? Melhor não. Mas que fique bem claro: é ex-primeira-dama. Ex) uma vez perguntou, numa conversa em família, quem era Getúlio Vargas. Quando estranharam que não soubesse, defendeu-se com o argumento de que não era obrigada a conhecer gente que viveu antes de ela nascer. (Epa! Será que esse dado lhe revela a identidade?)

A moça da livraria, se for mesmo um caso típico, como aqui se supõe – ou, mais ainda, se aposta –, revela um país tão interligado pela oferta de informação instantânea de nossa era quanto irmanado na ignorância. Os mais cáusticos dirão que isso explica a popularidade do presidente Lula e as boas avaliações de seu governo. Há conclusão mais triste a tirar. A de que este é um país em que, para grande parte da população, é irrelevante, perda de tempo, não serve para nada, saber o nome do papa, ou reconhecer o rosto de quem até outro dia ocupou a Presidência da República.

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O evento da semana, para o colunista, foram as rixas que irromperam nas arquibancadas e nos corredores do Maracanã durante a cerimônia que, com a presença do presidente Lula, marcou a formatura dos primeiros 5.000 jovens pobres escolhidos para servir como "guias cívicos" durante os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. O programa dos "guias cívicos", patrocinado pelo governo federal, tem o objetivo de treinar jovens de 14 a 24 anos para bem receber os visitantes estrangeiros durante os Jogos. Ao mesmo tempo, pretende incentivar a boa convivência entre rapazes e moças oriundos das diferentes comunidades (o novo nome das favelas) do Rio. A cerimônia foi mostrada na TV do modo idílico como em geral são tratadas semelhantes iniciativas. "Bienvenidos al Rio", disse um menino, exibindo o que aprendeu para bem impressionar os estrangeiros. Em seu discurso, Lula criticou a imprensa por só dar notícia desfavorável sobre os jovens, esquecendo-se das favoráveis, como a boa disposição das turmas ali reunidas. Enquanto isso, lá no alto das arquibancadas, fora da vista do presidente, dos ministros, do governador Sérgio Cabral e outras autoridades...

Jovens do CV xingavam os do ADA, os do ADA cercavam os do CV, os do CV empurravam os do ADA, os do ADA perseguiam os do CV. CV e ADA – ó leitores irmanados pela ignorância! – são facções do tráfico de drogas. Conforme o morador seja da Rocinha, do Vidigal, do Alemão ou da Maré – e esses lugares todos encontravam-se ali representados – estará sob o domínio do CV ou do ADA. Para muitos que sabem o nome do papa e dos ex-presidentes, neste país, é irrelevante saber o que é CV, o que é ADA, e quem se filia a um ou a outro. Para muitos outros, o papa e ex-presidentes são irrelevantes, mas é vital saber o que é CV, o que é ADA, quem é do CV e quem é do ADA.

AÔ, ALÔ, TEM ALGUÉM AÍ?

Stephen Kanitz

"Odeio ligar para empresas que têm mais de 3 000 funcionários, mas não têm como contratar uma única telefonista. Você é tão insignificante que falar com você foi considerado um serviço não essencial. Você foi terceirizado para outra empresa"

Eu odeio ter de ligar para o meu cartão de crédito, para o meu provedor de serviços telefônicos, para o meu provedor de celular e para a grande maioria das empresas que têm mais de 3.000 funcionários, mas não têm como contratar uma única telefonista.

São empresas que dizem prezar o "relacionamento" com o cliente e começam com uma gravação que, sem um bom-dia sequer, vai logo ditando ordens e instruções.

"Se você é cliente com conta atrasada, disque 1. Se você é empresa jurídica, disque 2. Se você é um novo cliente, disque 5. E, se não for nenhuma das alternativas acima, dane-se!"

Eu sempre começo discando o 5, na suposição de que irão tratar melhor um cliente em potencial do que um cliente antigo. Ledo engano, logo me transferem para um departamento chamado "Todos os nossos atendentes estão ocupados".

Durante a longa espera, uma gravação pede: "Favor digitar o número do seu cartão de crédito, o número do seu protocolo de reclamação, o seu CEP, CPF e RG, bem como o nome completo de solteira da sua mãe". Só que a primeira voz humana que aparece pede para eu repetir tudo novamente. Quem manda obedecer a uma gravação?

Pior é quando uma empresa telefônica pede para digitar o número de seu telefone e DDD. Se nem a sua própria empresa de telefonia sabe o seu número de telefone, você está na empresa errada.

Não desperdice o valioso tempo do atendente reclamando dessa hora de espera perdida. Você só tem cinco segundos, lembre-se de que o tempo precioso é o DELE, e é melhor usar os segundos para fazer a reclamação que realmente precisa ser feita.

Passou do tempo, a linha cai. Apesar de eles terem o seu número de telefone no cadastro, jamais telefonarão de volta. Eles simplesmente não têm tempo para isso, o desocupado nessa história é você. Na sua nova ligação nem tente solicitar ser atendido pela mesma pessoa que já sabe o seu CPF e RG, porque não transferem. O tempo precioso, repito, é o deles, e já estão atendendo outra ligação.

O que a maioria das pessoas não sabe é que você nem sequer está conversando com um funcionário da empresa que lhe presta serviços. Você está conversando com uma empresa especializada, terceirizada, que pesquisou anos a fio a melhor forma de tratar você. É o melhor que eles conseguem.

Não adianta pedir para falar com o presidente da empresa, porque eles estão a quilômetros de distância, e de propósito. Você é tão insignificante que falar com você foi considerado um serviço não essencial, por isso você foi terceirizado para uma outra empresa.

Lembre-se de que o atendente e seu supervisor já ouviram todo tipo de desaforo possível antes de você disparar os seus. Eles são totalmente imunes. Todos já ouviram coisas muito piores do que as que você jamais seria capaz de dizer, e você só estará aumentando a sua pressão arterial à toa.

Ultimamente eu tenho tido mais sorte ligando para o departamento de acionistas do que para o departamento de atendimento ao cliente. Dou um número de acionista qualquer e comento o que pretendo dizer na Assembléia dos Acionistas sobre a não-solução do meu problema.

Como muitos presidentes dessas empresas estão mais preocupados com suas stock options do que com seus clientes, tratarão melhor você como acionista do que como cliente.

Em vez de ameaçar cancelar o serviço, que é outra via-crúcis que poucos conseguem completar, ameaço escrever a todos os analistas de bolsa que acompanham os papéis da empresa, recomendando que vendam as ações de companhias que nem se importam em dizer "alô" a seus clientes.

Não adianta ameaçar "ir para a imprensa". O tratamento é exatamente igual. O que funciona é ameaçar ir para a próxima reunião da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais, a Apimec. Aí, eles tremem na base.

O pior é que no futuro tudo isso só vai piorar. Essas empresas de telemarketing serão um dia substituídas por outras de bem mais longe, em Goa, na Índia. E ficaremos felizes em ser recebidos com sotaque português.

No fundo, você é feliz e não sabe. Você simplesmente não imagina o futuro que nos espera.

DISQUE "DIOGO" PARA FAZER LOBBY

Diogo Mainardi

"A mulher de Franklin Martins me telefonou. Eram 10 da noite. Falamos por mais de uma hora. Muito educadamente, ela me apresentou seu curriculum vitae e perguntou que cargo eu autorizaria que ela ocupasse a partir de agora, com a ida de Franklin Martins para o ministério de Lula"

Ninguém mais quer derrubar o Lula. Eu quero. Eu o derrubaria todas as semanas. Em vez de perder tempo comigo, leia atentamente a reportagem sobre Jader Barbalho. Se dependesse de mim, o caso derrubaria o presidente agora mesmo. O que falta para pedir a abertura de uma CPI da Bandeirantes? O que falta para responsabilizar Lula pelo rolo de 80 milhões de reais?

Deve ser bom derrubar um presidente. Deve ser bom derrubar qualquer político. Apesar de meu fervor golpista, só tenho o poder de nomeá-los. Eu nomeei Franklin Martins. Ele virou ministro porque foi afastado da Rede Globo. E ele foi afastado da Rede Globo porque mostrei que sua mulher era assistente parlamentar do então líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante.
Outro dia a mulher de Franklin Martins me telefonou. Eram 10 da noite. Falamos por mais de uma hora. Muito educadamente, ela me apresentou seu curriculum vitae e perguntou que cargo eu autorizaria que ela ocupasse a partir de agora, com a ida de Franklin Martins para o ministério de Lula. Respondi que ela poderia ocupar qualquer cargo no funcionalismo público, menos um cargo comissionado, como o que tinha no gabinete de Aloizio Mercadante. Ela achou ruim. Muito ruim. Para lá de ruim. Ponderou que, sem um cargo de comando, à altura de sua capacidade profissional, acabaria limpando as botas dos apadrinhados dos políticos. Repliquei que ela teria de se contentar em limpar as botas dos apadrinhados dos políticos enquanto seu marido fosse ministro. É isso: sou um fracasso na hora de derrubar o presidente, mas posso decidir o emprego do ministro e da mulher do ministro. Já tenho um futuro como lobista. No melhor dos casos, serei parceiro de Lulinha. No pior, de Vavá, o irmão de Lula.

A popularidade de Lula impediu até hoje que ele fosse derrubado. Eu refletia a respeito do assunto enquanto lia Os Homens que Mataram o Facínora, livro que narra a história dos soldados que perseguiram, assassinaram e degolaram Lampião. O fato de refletir a respeito de Lula durante a leitura de um ensaio sobre cangaceiros pode indicar uma certa obsessão de minha parte. É verdade. Ocupei-me de Lula por tanto tempo que o caso já se tornou patológico. Vejo sua imagem estampada em todos os lugares. Vejo-a na mancha de café do sofá da sala. Vejo-a no bolor do queijo parmesão. Vejo-a na marca de suor da camisa do porteiro. É meu sudário blasfemo.

Sociedades arcaicas tendem a cultuar o banditismo. Foi assim na Inglaterra do século XIV. Foi assim na Itália do século XVI. A gente ainda está estacionado nessa fase. Por isso os cangaceiros entraram para o imaginário nordestino. Por isso Lula foi reeleito. Mas um dia tudo muda. Como eu sei? A marca de suor na camisa do porteiro mostrava uma cabeça degolada.

13 abril 2007

VER OU NÃO VER, EIS A QUESTÃO

NELSON MOTTA

Antes de qualquer outra pergunta, o 1º Fórum Nacional de TVs Públicas deveria enfrentar com coragem a mais importante: por que quase ninguém as vê? Porque as acham chatas? Malfeitas? Burras ou inteligentes demais?

Os números do Ibope são fatais: a média diária de audiência das TVs públicas e estatais na Grande Rio é de 0,11%, exatos 11.120 espectadores, num universo de oito milhões de habitantes. Na Grande São Paulo, a média é 0,42%, ou 75.690 pessoas entre 16 milhões. A média nacional é de 0,26%, com mais 56 mil brasileiros espalhados pelos outros Estados. Não é muito pouca gente para tanto dinheiro?

Mas o quadro é ainda pior. Porque os raros programas de sucesso, como "Sem Censura", "Roda Viva" e desenhos animados, puxam a audiência para cima e a média fica ainda mais baixa nos outros horários. Então, para que e para quem se está gastando tanto tempo, dinheiro e trabalho?

Certamente a maioria dos funcionários das TVs estatais se esforça muito e ganha pouco, muitos são competentes e alguns, talentosos. Mas só a falta de recursos não explica por que o público, esse ingrato, não está vendo o que eles, com tanta boa vontade, produzem.

É uma questão de cultura ou de mercado? De conceitos atrasados ou politicagem? Ou, no fundo, de desprezo pelo "mau gosto" do povão que lhes paga os salários? Muito mais pela cidadania fez a TV Globo com "Central da Periferia". E milhões viram.

As TVs universitárias e comunitárias, de alcance e público restritos, têm baixos custos e são instrumentos de avanço democrático e da livre expressão. Mas as estatais deviam fazer uma autocrítica.

Quem não se comunica se trumbica, advertia o Chacrinha. Mas, no caso dessas TVs, só quem se trumbica é o contribuinte.

CAI A CONCENTRAÇÃO DE RENDA

Jornal Nacional

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada detectou uma redução na concentraçãode renda, no Brasil. É um avanço, mas, segundo o estudo que será divulgado esta semana, ainda somos o décimo país mais desigual do mundo.

A renda destas pessoas, segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, cresceu 36% entre 2001 e 2005. No mesmo período, houve uma queda de 1,2% na renda dos 10% mais ricos.

A ECONOMIA BRASILEIRA

Do Ex-Blog de César Maia:

1. Márcio Garcia da PUC-RJ conseguiu demonstrar porque a intervenção do Banco
Central não está influenciando a taxa de câmbio. Ou seja: porque o Banco Central
está perdendo a guerra contra o ataque especulativo. Para cortar o ataque
especulativo é preciso realmente emitir moeda ou baixar a taxa de juros. Em
nossa opinião, é mais fácil anunciar uma banda cambial entre 2 e 3 e realmente
emitir moeda se necessário para comprar dólares no nível próximo de 2.

2. Uma banda de 2 para 3 é realmente necessária. Senão vamos ter até deflação em
reais e recessão. Alguém conseguiria imaginar o que está acontecendo no Brasil?
Que festa é essa? 12% de ganho mais a apreciação mais a alavancagem. Tem hedge
fund ganhando 100% no Brasil em poucos meses. E a porta de saída? Remember 1998
ou 2002.

3. Digamos que a inflação no Brasil esteja muito abaixo das metas por causa da
ajuda do câmbio apreciado. Acontece que na verdade as Autoridades Monetárias
brasileiras estão "gostando" da taxa de câmbio apreciada.

4. Não é verdade, portanto, que o Banco Central do Brasil conduza a taxa de
juros pensando apenas na inflação. O Banco Central do Brasil não baixa mais
rapidamente dos juros porque sabe que o câmbio vai desvalorizar e - mesmo que
isso seja muito bom para o crescimento econômico - é ruim para a inflação, como
ficou demonstrado em 1999 e 2002.

5. A suprema ironia, em nossa opinião, é que o governo do PT percebeu que
inflação baixa dá mais voto do que desemprego baixo. Curiosamente, os petistas
parecem menos preocupados do que os republicanos nos EUA com o crescimento
econômico. E mais satisfeitos com a inflação muito baixa.

6. Afinal, só os desempregados são afetados pelo desemprego enquanto a inflação
afeta a todos: é 100% contra 10%. Quem ganha eleição no Brasil é a inflação
baixa enquanto nos EUA é o desemprego baixo - o que se explica pelas histórias
passadas dos dois paises nas últimas décadas desde 1950.

7. Pena que o espetáculo do crescimento esteja terminando na maioria dos paises
- com exceções como China e Índia - e que o Brasil tenha perdido esse bonde da
história nos últimos 20 anos. Somos agora um país sem inflação e sem
crescimento econômico. Uma ironia quando se olha para o período 1950-1980.

12 abril 2007

DEGUSTAÇÃO DE ÁGUA?

Só faltava essa...

Depois do vinho, do chá, do chocolate, do sal... (ufa!), já pensou em degustar água?
Por Joana Ricci

Beber água faz bem. Todo mundo sabe. Repare: perto de você deve ter alguém com uma garrafinha na mão. Em tempos de ameaças de escassez, aquecimento global e afins, o líquido tende a ficar cada vez mais importante. No Brasil, o consumo de água engarrafada triplicou nos últimos 10 anos, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam) e do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). As prateleiras do supermercado acomodam 400 marcas diferentes. Das nacionais, como Prata e São Lourenço – consideradas “gourmet” por acompanhar bem refeições regadas a vinho –, às importadas, como a francesa Perrier e a italiana San Pellegrino. Na tentativa de estimular ainda mais o consumo, uma proposta inusitada: degustação de água. A coisa toda é ancorada na onda de provas de quase todo tipo de bebida (vinho, café, chá) e até comida (chocolate, sal).

O portal encarou uma aula que ensina a avaliar o líquido. Foi no curso Universidade dos Sentidos, ministrado pelo consultor Renato Frascino. A idéia é proporcionar experiências sensoriais a partir da degustação de alimentos e bebidas. Diante das outras “disciplinas” oferecidas, como vinho, azeite e cerveja, a aula a princípio parecia bem aguada – com o perdão do trocadilho. Mas funciona assim, como outras análises do gênero: o produto é testado levando-se em conta sabor, aroma e textura. Pode variar em acidez, efervescência – no caso das gasosas – e até mesmo em estrutura e suavidade: que tal uma mais encorpada e aveludada?

“Nenhuma água é igual e seu gosto é alterado em função do clima e do solo”, afirma Frascino. A bioquímica Petra Sanchez Sanchez, da Abinam, explica que, antes de ser extraída, a água mineral passa por diversas rochas e é delas que retira seus nutrientes. “Isso também altera o sabor”, afirma Petra. Pois é. Parece que já não basta decidir entre com e sem gás, gelo e limão. Se a moda pega, logo o garçom vem oferecer uma carta de água....

Água de beber
• Ela pode ser:
- tratada pela rede pública. É a que sai das torneiras
- mineral natural. É envasada direto da fonte
- enriquecida artificialmente em laboratório, onde são adicionados sais à composição original

• As chamadas águas aromatizadas são bebidas com sabor (limão, laranja) e não contém gás. Se tiver bolhinhas, é refrigerante.

• A água que sai da torneira é potável e, em tese, pode ser bebida. “Para que a qualidade seja preservada, a caixa-d’água ou reservatório em que ela é armazenada devem estar sempre em bom estado e serem limpos a cada seis meses”, afirma Ivana Wuo Pereira, gerente do departamento de Controle de Qualidade da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

• Em São Paulo, a água que sai da torneira vem enriquecida com flúor. A medida é parte da política de prevenção de cáries na população.

• Antes de ser envasada, a água entra em contato com rochas, areia, algas e outros elementos que a afetam. Solo e clima também influenciam o sabor e a composição.

Fique de olho: o rótulo da água engarrafada exibe as variações de componentes. Os mais comuns são sódio, potássio, cálcio e bicarbonato.
- Uma pessoa que tem problemas cardíacos, por exemplo, não deve consumir sódio em excesso
- Quem precisa ingerir mais cálcio, mas não pode beber leite, pode optar por uma água que tenha mais desse elemento em sua composição. “Estudos recentes dizem que o cálcio presente na água é ainda melhor absorvido pelo organismo”, diz a bioquímica Petra Sanchez Sanchez, da Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam) .
- o magnésio é indicado para quem controla a hipertensão, o zinco ajuda no processo curativo, o cálcio previne a osteoporose e o bicarbonato reduz a acidez do estômago.

• Em média, o brasileiro bebe 31 litros de água envasada por ano. Os paulistanos consomem 75 litros. Em países da Europa, esse consumo chega a 162 litros no mesmo período

O BRASIL E SUA INFLAÇÃO

O número é impressionante: 14.210.480.006.034.800% (14 quatrilhões, 210 trilhões, 480 bilhões, 6 milhões, 34 mil e 800 por cento)! Esta foi a inflação do Brasil nos últimos 45 anos (1961-2006).

Confira abaixo, reportagem da Folha de S. Paulo:

Brasil é campeão de inflação em 45 anos

Percentual chega à casa dos 14 quatrilhões de 1961 a 2006; dos seis primeiros países da lista, cinco são sul-americanos

Argentina é a 2ª colocada, com taxa de 256 trilhões, e a Noruega, com 916%, tem a menor inflação; atualmente, Brasil ocupa a 24ª posição

Nos últimos 45 anos, o Brasil conquistou um título nada lisonjeiro: o de campeão mundial de inflação. A taxa acumulada no período chegou a 14.210.480.006.034.800% de 1961 a 2006. O percentual, na casa dos quatrilhões, consta em estudo do Bradesco obtido com exclusividade pela Folha.

"Esses números, com outras coisas, como a negligência na área de educação, ajudam a contar como se construíram as mazelas sociais existentes no Brasil", afirmou o diretor de Pesquisa Macroeconômica do Bradesco, Octávio de Barros. "É um resultado cósmico. Para medi-lo, é preciso lançar mão de unidades usadas por astrônomos", resumiu o diretor do Departamento de Economia do Ciesp, Boris Tabacof.

Para fazer o cálculo, os economistas do Bradesco levaram em conta o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) entre os anos de 1961 e 1980. A partir daí, o indicador escolhido foi o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), considerado melhor para espelhar a realidade brasileira. Antes de 1980, o IPCA não existia.

A vice-liderança do ranking inflacionário coube à Argentina. No período da pesquisa, o país vizinho acumulou uma taxa de 256.376.764.519.163%. Foi seguida do Peru (216.144.603.134%), do Uruguai (2.001.304.983%), da Turquia (98.325.454%) e do Chile (81.234.245%).

Ou seja, dos seis primeiros colocados na lista dos países que mais sofreram com a inflação, cinco são sul-americanos.

"Tenho a impressão de que isso está relacionado ao populismo, que marcou a história da América do Sul", afirmou o economista Caio Megale, sócio da Mauá Investimentos. "A inflação é um resquício de tentar crescer a qualquer custo, de criar essa panela de pressão que estoura lá na frente."

Recentemente, a Folha realizou enquete com 200 personalidades para saber quem era o brasileiro mais importante de todos os tempos. O nome apontado foi o do presidente Getúlio Vargas, tido pelos historiadores como o expoente do populismo no Brasil.

Menores índices
Do outro lado do ranking, os países que conseguiram melhor controle sobre a inflação entre 1961 e 2006 foram Noruega (acumulado de 916%); Suécia (922%), Austrália e Dinamarca (ambas com 1.018%, respectivamente).

O Brasil viveu uma escalada descontrolada da taxa inflacionária até 1994, quando o governo Itamar Franco lançou o Plano Real. O cerne do plano -idealizado por uma equipe de economistas que, em boa parte, participou da gestão FHC- consistia em quebrar o ciclo vicioso da remarcação de preços. Para tanto, foi preciso acabar com a indexação, que permitia altas contínuas no valor das mercadorias.

No intervalo compreendido entre 2001 e 2006, o Brasil caiu do primeiro para o décimo lugar no ranking inflacionário, com uma taxa acumulada de 55,3%. No início do rol, aparecem Turquia (261,6%), Venezuela (197,9%) e Rússia (118%).

Atualmente, o Brasil vai ainda melhor: tem 23 países à sua frente -entre os emergentes, ficou atrás de 14.

Metas
"Ficar na 24ª posição é uma mudança de paradigma. Isso foi possível, em primeiríssimo lugar, graças ao papel do regime de metas de inflação; à autonomia de fato exercida pelo Banco Central de 1999 para cá; às políticas macroeconômicas não-heterodoxas em matéria fiscal; à abertura da economia, ainda que incipiente; aos ganhos de eficiência e produtividade das empresas nesses últimos anos; à globalização e, finalmente, ao fenômeno da China, que joga preços e salários de todo o mundo para baixo", ponderou Octávio de Barros, que defende uma independência ainda maior para o BC.

Megale concorda. "Antes, qualquer surtozinho era difícil e havia desconfiança sobre a ação do BC. Isso hoje é totalmente diferente."

Tabacof, do Ciesp, também considerou que a indexação, em parceria com a correção monetária, resultava na disparada dos preços. Na avaliação dele, entretanto, não é o arrocho da política monetária que segura a inflação atualmente.

"Com a economia fechada, os preços eram trabalhados internamente. Hoje, bens, produtos e serviços circulam relativamente livres pelo planeta. A verdadeira âncora da inflação do Brasil é o câmbio", explicou. "Não é porque o BC pratica um juro catastrófico que a inflação está sob rédeas. É preciso enfrentar isso ou viveremos outra distorção, a dos juros, a título de manter o que o BC chama de expectativas do mercado."

11 abril 2007

PESQUISA

Reinaldo Azevedo:

O super-Lula da pesquisa: o que isso quer dizer?

Segue síntese do Estadão On Line sobre os números da pesquisa CNT-Sensus.
Volto em seguida:

Lula
O índice de aprovação do presidente foi o melhor desde fevereiro de 2005 (66,1%) e ficou em 63,7% contra 59,3%, em agosto de 2006, data da última pesquisa. A desaprovação ao desempenho de Lula também caiu, para 28,2%, ante 32,5% em agosto de 2006, também a menor desde fevereiro de 2005.

Governo Lula
O levantamento apontou ainda um aumento na avaliação do governo, que foi para 49,58%, a terceira melhor da série. Em agosto de 2006, a aprovação estava em 43,6%. O porcentual dos que desaprovam a gestão de Lula caiu para 14,6%, o menor índice desde fevereiro de 2005.
Para 54,8% dos entrevistados, o segundo mandato do presidente vai ser melhor do que o primeiro. Para 19,6%, será pior e 18,7% acreditam que será igual.A avaliação regular do governo também caiu, de 39,5% para 34,3%.

Apoio partidário e ministérios
A exigência dos partidos políticos de participar dos ministérios em troca de apoio ao governo no Congresso conta com a aprovação de 37,5% dos entrevistados, contra 40,8% que discordam.

Violência
Para 90,9% dos entrevistados, a violência no Brasil aumentou nos últimos anos. Apenas 5,2% discordaram. Os que consideram a cidade onde vivem violenta ou muito violenta chegam a 34,8%. Já 38,3% acham sua cidade pouco ou nada violenta.
Sobre as causas da violência, 24,1% apontaram a pobreza e a miséria. Praticamente empatados, a Justiça e o tráfico de drogas aparecem, com 19,1% e 19%, respectivamente. As leis brandas têm 15%; a corrupção policial, 11% e a falta de policiamento, 7,6%.
A pesquisa mostra ainda que para 29,9% da população cabe ao governo federal agir em relação à violência urbana, enquanto que 16,7% consideram essa responsabilidade do governo estadual e 12,6% da administração municipal.

Pena de morte e idade penal
Houve crescimento dos que são a favor da pena de morte: 49%, ante 46,7% em maio de 2003. Os contrários somaram 46%, ante 49,7% em maio de 2003. Já sobre a redução da idade penal para 16 anos, 81,5% foram favoráveis, contra 88,1% em dezembro de 2003. Os contrários à redução subiram de 9,3% para 14,3%.

Emprego e renda
Emprego e renda estão entre as prioridades que devem ser enfrentadas no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo 26,3% dos entrevistados. Saúde Pública aparece em segundo lugar, com 25,7%; seguida de Segurança Pública, 18,2%; Educação, 16,7%; Previdência Social, 5,5%; Defesa Nacional, 2,9% e Inflação, 1,7%.

Programas sociais
Os programas sociais do governo são conhecidos por 56,8% dos entrevistados. Desse total, 15,3% são beneficiários dessas iniciativas e 40,7% dizem não conhecer pessoas que sejam beneficiadas pelo programa.
Para 66% dos entrevistados, os programas são positivos, ajudam à população e levam ao desenvolvimento. Já 27,0% classificam os projetos sociais como negativos por não resolverem os problemas nem gerarem desenvolvimento.

PAC
Apesar de ser o carro-chefe do segundo mandato do governo Lula, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ainda é bastante desconhecido. O levantamento mostra que 59% dos entrevistados nunca ouviram falar do PAC, enquanto apenas 32,2% acompanham ou ouviram falar sobre o assunto.
Apenas 18,6% dos entrevistados acreditam que o programa vai ajudar o Brasil a crescer. Já entre os que têm informações sobre o PAC, esse índice sobe para 57,9% contra 24,7% que não acreditam que o programa vai acelerar o crescimento.

Selic
A redução da taxa básica de juros nos últimos seis meses aumentaram a disposição de 22% dos entrevistados para fazer compras a prazo. Mas, para 65,4%, a redução da Selic não aumentou a disposição para fazer novos financiamentos.
Entre os que disseram que houve aumento na disposição de compras a prazo, 48,4% efetivamente aumentaram suas compras, enquanto 46,8% não aumentaram.
A pesquisa mostra ainda que, do universo dos entrevistados dispostos a fazer compras a prazo, a preferência é por aquisições de eletrodomésticos, com 28% do total. A casa própria foi o segundo item mais citado, com 23,9%. Material de construção e carro aparecem na seqüência com 15% e 11,1%, respectivamente.

Crise aérea
O governo federal foi apontado como o principal responsável pela crise aérea no País. Pesquisa CNT-Sensus mostra essa constatação para 21,2% dos entrevistados. Tomando por base apenas os entrevistados que tiveram contato com o assunto (acompanham ou ouviram falar), esse número sobe para 25,8%.

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Para muitos dos que não gostam do governo Lula, os números talvez sejam um tanto desanimadores. Mas eles são absolutamente explicáveis. Mais do que isso: são razoáveis. Eu não esperava nada muito diferente disso. É isto, leitor amigo: conforme-se em ser minoria no Brasil por um bom tempo. O sonho da massa revoltada contra o poder despótico é uma ilusão ou uma tara de esquerda. A maioria da população, em situação de normalidade democrática, é assim mesmo: apática, abúlica e gosta de quem está no comando. Irrupções revolucionárias, só para citar o ponto extremo do desagrado da massa com os governantes, são sempre coisa de minorias e jamais são bem-sucedidas se uma fatia do próprio poder dominante não resolve trair as suas origens. Os historiadores, inclusive os marxistas, sabem disso. Mas criam o mito da resistência popular. Pura balela.

Lula foi reeleito há pouco mais de cinco meses e começou o segundo mandato há pouco mais de três: chegou lá com dois terços do eleitorado e, com pequena variação, ainda os conserva. A rigor, não há razão para ter perdido o apoio daqueles que o reelegeram. Aquele país ainda é o mesmo, com uma ou outra notícia “positiva” a mais, como o PIB recontado e o dólar no buraco, o que enche, acreditem, uma parte importante dos brasileiros de orgulho.

A craca assistencialista grudou na política brasileira, e não será fácil tirá-la, mormente porque as oposições são muito tímidas no país — e tendem a se intimidar ainda mais diante de pesquisas como essa. Querem números exemplares do que estamos vivendo? Dizem conhecer os tais “programas sociais” 56,8% dos entrevistados. Mas 66% os aprovam. Aprovam o quê? A propaganda. Com isso, não quero dizer que os programas não existam. Existem, é claro. Mas são uma abstração para uma boa parcela dos entrevistados — e, pois, dos brasileiros.

Acompanhem: quantos beneficiários, leitor, você conhece do Bolsa Família? A exemplo deste escriba, a resposta é quase certa: nenhum — fazemos parte daqueles 40,7%. Pior: integramos o grupo dos 27% que consideram que eles não respondem ao desafio do desenvolvimento. Estamos na contramão da “doxa”. E agora? Vejam só: Lula inventou o tal PAC para a parcela mais informada da população, que resiste a seus encantos. Nada menos de 59% dos entrevistados — e é provável que todos eles estejam entre os dois terços que o apóiam — nem sabem que diabo é isso. Só 18,6% acham que o programa vai ajudar o Brasil a crescer. Vejam só: se Lula nunca mais tocar nesse assunto, vai decepcionar pouca gente.

E a crise aérea? Como é possível que ela não afete a imagem de Lula? É possível. Ele governa ou para o país que anda de carroça (metáfora) ou para o que compra avião — jamais para o que apenas anda de avião. E não vai abandonar essa clivagem. No médio e no longo prazos, essa administração medíocre do país vai fazer diferença, cobrar a sua fatura? Vai. As políticas públicas têm um tempo de maturação que não é o mesmo do julgamento da opinião pública. Imaginem se FHC tivesse feito tudo o que PT queria nos seus dois primeiros mandatos... Imaginem um país com a economia ainda mais fechada, atolado no endividamento das estatais. Que governo o PT estaria fazendo agora?

Não duvidem: os que não compactuam com o lulo-petismo terão de comer poeira por um bom tempo. É da natureza do jogo. Mais ainda: têm de se organizar para não continuar a comê-la, coisa de que não estou bem certo de que saibam fazer. Penso, por exemplo, nas 3,4 milhões de pessoas jurídicas que integram o MSP — Movimento dos Sem-Político (na verdade, considerando familiares e tal, talvez o dobro disso). Quem fala por eles? Quem vocaliza suas angústias? As oposições, no Brasil, cometem a delicadeza de jogar fora o público que têm ambicionando aquele que jamais terão, porque seduzidos pelo petismo e suas “conquistas”.

Lula navega numa onda extremamente favorável, que só existe porque governos anteriores se negaram a seguir a receita do petismo — que, uma vez no poder, demonstrou não ter receita nenhuma, a não ser, de um lado, acomodar interesses, e, de outro, manter azeitada uma máquina assistencialista inédita. Até que seus erros de agora não comecem a cobrar a sua fatura, vai tocando a vida sem muitos percalços. Mas atenção: mesmo esses erros só passarão a ter importância se transformados em luta política, coisa que as oposições não conseguiram fazer até agora.