10 maio 2008

FRANGO, UM OVO CHEIO DE MILHO QUE VOA

ROBERTO RODRIGUES

A elevação do preço do milho é uma ameaça à produção de frangos no Brasil, que cresceu 200% desde o Plano Real

Quem não se lembra de um famoso dito que circulou por vários meses depois do Plano Real segundo o qual a carne de frango era uma prova (parte da âncora verde, grande responsável pelo combate à inflação àquele tempo) do seu êxito?
Pois essa afirmação continua valendo. De lá para cá, a produção de frangos cresceu 200% no país, um número extraordinário, superando quase todos os outros produtos do agronegócio brasileiro em termos de crescimento. Saltamos de 3,4 milhões de toneladas em 1994 para 10,2 milhões no ano passado.
Com isso, não só o consumo interno foi aquecido, inclusive em vários momentos nos quais o preço ao consumidor esteve abaixo do custo de produção, como as exportações avançaram: em 2007, cerca de 32% da nossa produção foi exportada, enquanto os demais 68% foram consumidos internamente.
Embora o Brasil não seja o maior produtor mundial (fica atrás dos Estados Unidos e da China), é o maior exportador: hoje, vendemos para fora 40,5% de toda a carne de frango exportada no mundo, seguidos por Estados Unidos, com 34,6%, e pela União Européia, com 9,6%. Nossos principais compradores são a União Européia (21%), o Japão (13%) e a Arábia Saudita (11%), seguidos de países cujas compras estão evoluindo rapidamente, como Hong Kong, Rússia, Emirados Árabes, Venezuela e outros. Mercados não tradicionais, portanto, abrem-se com avidez ao barato frango brasileiro de ótima qualidade.
Nos últimos quatro anos, aliás, as exportações para a UE aumentaram 72%, as para o Japão, 144%, as para a Arábia Saudita, 113%, as para Hong Kong, 272%, e, com destaque, as para a Venezuela, 1.627%. E, como a demanda mundial vem crescendo a um ritmo maior do que a produção, os estoques estão diminuindo: em 2002, havia um estoque mundial de 623 mil toneladas; no ano passado, o número já estava em 541 mil toneladas.
Os grandes Estados produtores no Brasil são o Paraná (com 23%), seguido de Santa Catarina (16,2%), de São Paulo (14,8%) e do Rio Grande do Sul (14,4%). Há um forte crescimento da produção avícola no Centro-Oeste, acompanhando as matérias-primas fundamentais para seu sucesso, que são o milho e a soja.
Dados recentemente lançados pelo Ministério da Agricultura indicam que, em pouco tempo, a produção de carne de frango superará a de carne bovina e poderá chegar a 17 milhões de toneladas em 2017. Bom para o brasileiro, cujo consumo per capita cresceu de 13,6 quilos em 1990 para 37,82 quilos no ano passado.
Todos esses números apontam para o grande trabalho realizado pelos produtores brasileiros, com base em tecnologia de primeira e na integração entre a agricultura e a indústria, garantidora de renda razoável na cadeia toda. Agora, há uma ameaça presente: a elevação do preço do milho, determinado pela redução de estoques mundiais desse grão maravilhoso, em razão do espetacular aumento da demanda dos países emergentes. Os estoques de milho hoje estão pela metade do que eram há sete anos, e isso desequilibra a cadeia. Seria interessante que os diferentes agentes (produtores de milho, de ovos, de frangos e frigoríficos) se entendessem para estabelecer uma regra que garantisse a sustentabilidade da cadeia toda, com remuneração compatível com os investimentos e gastos de cada elo.
A questão sanitária é outro ponto muito importante. Os números dos estragos causados pela gripe aviária ainda estão muito vivos.

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