30 janeiro 2007

Triste Brasil

Ives Gandra


Antonio Delfim Netto, em seu artigo Triste verdade, publicado na Folha de S.Paulo, no último dia 10, mostra como três documentos anuais sobre a evolução da economia do mundo fornecem melancólica avaliação sobre a estagnação econômica brasileira.


O World Economic Forum, entre 125 países, coloca o Brasil em 66º lugar, tendo em conta a taxa de crescimento; o IMD World Competitiviness Year Book, entre 52 países, coloca o Brasil na 43ª posição; e o Doing Business of the Year reserva-nos a 121ª posição, entre 125 países.


Para um país em que executivos como o presidente da General Motors e autoridades como Rodrigo Rato, diretor-geral do FMI, não sabem dizer por que não cresce, a "performance" obtida pelo governo Lula é melancólica, visto que demonstra que seu governo pouco fez em prol do desenvolvimento. O que realmente cresceu, no Brasil, foi: 1) a carga tributária - a mais indecente dos países emergentes; 2) os quadros do funcionalismo público, conformando uma máquina administrativa esclerosada, na qual ingressam muitos servidores sem concurso; 3) contratos superfaturados, como tem constantemente alertado o TCU, o que, talvez, esteja na base dos escândalos apurados em 2005 e 2006, hoje objeto de denúncia oferecida pelo procurador-geral da República e que fala em "quadrilheiros, parlamentares e amigos do rei", como noticiaram os jornais.


Por outro lado, a convivência fraterna dos dirigentes do país com estes aprendizes de ditadores, que são Morales e Chávez - chefes do Executivo de dois países que, juntos, têm população inferior à do Estado de São Paulo - dificulta maior atração de capitais para investimentos no Brasil. É de se lembrar que, enquanto o fluxo de tais investimentos cresceu, no mundo (segundo a ONU) em 34,3%, caiu, na América Latina, em 4,5%, no ano de 2006. Mesmo no Brasil - que, por suas potencialidades, poderia tê-los recebido nos mesmos níveis que China, Índia e Rússia - cresceu apenas, 5,6%, abaixo, portanto, da média. Por esta razão, no volume global do IED (investimento estrangeiro direto), o Brasil teve reduzida sua participação, que caiu de 1,6% para 1,3%. É de se lembrar que, em 2004, nossa participação era de 2,6%, tendo em um único ano perdido 1% da participação global, ou seja, quase 40%, de um ano para o outro. E continuará caindo.


Enquanto no Brasil o IED cresceu apenas 5,6%, contra a média global de 34,5%, o Chile aumentou 48,4%, a Rússia 94,6% e a Índia 44,9%, em clara demonstração de que estamos seguindo o caminho do retrocesso, impondo, o atual governo, uma violenta marcha-à-ré na economia.


É bem verdade que está agora anunciando metas de desenvolvimento. Fala em 5% de crescimento e que pretende "flexibilizar" o orçamento - com nítido risco de perder o controle da inflação.


Ocorre, todavia, que seus primeiros gestos - aumento do salário mínimo e da Bolsa Família, à custa de aumento da carga tributária e possível cerceamento do crescimento econômico privado - sinalizam que os caminhos que conduzem ao verdadeiro desenvolvimento continuarão distantes e os medíocres índices ostentados nos primeiros quatro anos poderão ainda ser piores, nos próximos quatro anos, à falta de uma política real de contenção das despesas da máquina administrativa esclerosada.


Em outras palavras, o que emperra o Brasil é a máquina pública esclerosada. A carga burocrática é a principal responsável pelo seu fraco desempenho no cenário mundial. E, nesse setor, infelizmente, o presidente não pensa em tocar, até porque, dos 22 mil cargos públicos que tem à disposição para negociar, grande parte sai da entumecida administração pública federal.


Pobre Brasil!

Nenhum comentário: