15 janeiro 2007

Aldo e Chávez são 'abacaxis' de Lula
Kennedy Alencar

Dois políticos aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverão trazer alguma emoção ao começo do segundo mandato do petista.

Aldo Rebelo (PC do B-SP) tem demonstrado uma agressividade inusual e uma vontade de criar laços políticos com a oposição mais radical que poderão atrapalhar o sono de Lula se o comunista se reeleger presidente da Câmara.

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, resolveu rasgar a fantasia. É sério candidato a ditador do Mercosul, bloco econômico e político do subcontinente que precisará se posicionar claramente a respeito da autocracia em construção na Venezuela.

Aldo era o preferido de Lula. Lula não acreditou no sucesso da candidatura do líder do governo, Arlindo Chinaglia, a presidente da Câmara. O líder petista na Câmara surpreendeu. Tem maioria entre os partidos da base de apoio lulista no Congresso. Fechou até com setores da oposição.

Aldo se chateou. E agora bate duro em Lula em conversas reservadas. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso virou seu grande cabo eleitoral. A eventual vitória de Aldo, que parece improvável hoje, se dará à revelia de Lula. Significará um presidente da Câmara menos comprometido com o governo que ora começa.

Não há espaço para Lula levar Chinaglia a recuar. Os últimos movimentos de Aldo parecem ter afetado a relação de confiança entre o presidente e ele, levando em conta relatos de quem conversou com o petista na última semana.

Na política externa, Chávez era uma espécie de amigo levado que Lula precisava tutelar, apontando-lhe o bom caminho. Como o venezuelano foi vítima de tentativa de golpe, Lula contemporizava. O presidente brasileiro também achava que os EUA exageravam ao ver em Chávez traços ditatoriais. Chávez virou o herói do Fórum Social Mundial, um ídolo da esquerda mundial. Roubou a cena de Lula.

Como o petista se comportará a partir de agora? No terceiro mandato, Chávez anuncia a estatização de empresas de energia e telecomunicações. Quer poderes para governar por decreto. Pediu a um Legislativo emasculado que aprove a possibilidade de reeleições indefinidas. Promete submeter a decisão a um plebiscito popular para lhe dar legitimidade.

Os países do Mercosul se reunirão no Rio de Janeiro nesta semana. Será que fingirão que os passos largos que Chávez dá rumo a uma ditadura são assuntos internos da Venezuela?

Lula volta do Guarujá com dois abacaxis daqueles para descascar.

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