Rubem Azevedo Lima
O que nós, jornalistas políticos, cremos saber de política, no Brasil — o cabedal de nossa suposta sabedoria no assunto —, faz jus à conclusão do velho Montaigne: os sábios precisam de moderação igual à devida aos loucos. Há tempos, vemos, com freqüência, absurdos políticos crônicos ficarem mais esquecidos, a cada novo escândalo. Desvios de conduta política, tipo traições, mentiras, acertos que raiam pela corrupção... Vê-se um pouco de tudo isso, na disputa pela direção do Congresso.
Trata-se de questão importante, mas não a ponto de pôr em segundo plano o essencial para os destinos do país, a menos, claro, que se queira destruir o Legislativo.
Poder algum está livre de lutas por ambições e de conflitos de interesses. Todos os poderes, ainda que neles não haja só gente digna, são fundamentais para a democracia. Mas, na crítica à conduta ética dos congressistas, as generalizações negativas são quase um truísmo.Por seu lado, o excesso de tempo e espaço midiáticos, ao debate atual, tira de foco o poder que governa, o Executivo, em prejuízo da transparência desse poder e de seu equilíbrio com os outros dois.
Não se fala da falta de programas do governo para o novo mandato presidencial. Nem se mostra que o socorro de forças nacionais, contra o banditismo urbano, oferecido a São Paulo e ao Rio, não chegaria a tempo de evitar o que houve nesses estados, em 2006. E, até hoje, aliás, não se trata da causa de tais violências, mas de seus efeitos.
De resto, há sinais de estagnação na indústria, aumento de desemprego e deterioração dos sistemas de ensino, saúde e transportes. Juros e impostos sufocam a produção; o dólar está supervalorizado; falta dinheiro para investimentos internos; o governo investe no exterior, paga juros antecipados e parte da dívida externa, mas a interna, de 42% do PIB, em 2003, foi a 52%, em 2006.
Há, pois, problemas sérios a resolver, mas se purga só a vergonha parlamentar, que, ante as expostas acima, nem é a maior. Montaigne vem a propósito: ele combateu, com vigor, em seu tempo, a mesma política de mentiras e injustiças, que hoje aflige os brasileiros.
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