11 janeiro 2007

Do Blog de Reinaldo Azevedo:

Chávez e o Brasil 1 - A eleição na Venezuela
O assunto Hugo Chávez, confesso, me aborrece um pouco. Estou me esforçando para devolver à rede o arquivo de Primeira Leitura. Quem era leitor e tem memória do que se escrevia então sabe que sempre tratei este delinqüente como um protoditador — quando ele era apenas isso. Enquanto a canalha politicamente correta relinchava: “Mas o que ele fez contra a democracia até agora? Ele não recorre sempre a votações?” Sim, claro, claro, como se não fosse possível usar os instrumentos da democracia para solapar a democracia... Aliás, o mais evidente e corriqueiro deles é recorrer a plebiscitos, referendos e constituintes. Nessas horas, os orelhudos de plantão comparecem ao debate para lembrar os cantões suíços. Tá bom. Dêem-me a Suíça primeiro. Uma coisa é decidir o que fazer com a quadra da escola pública no fim de semana; outra é chamar a “massa” para arbitrar sobre direitos individuais por exemplo. Não se esqueçam: os petistas chegaram a flertar com a idéia de uma constituinte para fazer a reforma política. E, com efeito, não sei se já desistiram...

Mas volto a Chávez. Seu discurso de posse deixou muito claro: “Pátria-mãe: socialismo ou morte”, afirmou, repetindo Fidel Castro, um dia depois de ter anunciado a disposição de nacionalizar as empresas de telecomunicação e de eletricidade e de não renovar a concessão de um canal de TV que considera “subversivo”. Seu mandato vai até o longínquo 2013. E ele já tem pronta uma medida, para ser votada pelos seus bate-paus, que permite a reeleição sem limites no país. Daí a alcunha que lhe cabe bem: ditador eleito.

Hoje em dia, o Brasil não tem mais tanta importância para Chávez. Mas Lula já foi seu fiador. Mais do que isso. O Apedeuta chegou a declarar que havia democracia “até demais na Venezuela”. O PT, como partido, acaba de mandar uma mensagem saudando a posse do ditador, o mesmo que se uniu a Evo Morales para nos tomar a Petrobras. Este “nos” quer dizer “o Brasil”. Lula não foi surpreendido. Chávez, o Babalorixá, Evo e outros mais mal-encarados compõem o chamado Foro de São Paulo, uma realidade que nada tem de hipótese conspiratória. Perguntem aos petistas. Eles vêem a união das ditas esquerdas latino-americanas — as narcoguerrilheiras Farc pertencem ao grupo — como resposta, imaginem só!, ao Consenso de Washington!

Chávez vai implementar o “socialismo” na Venezuela? Que importa? O que é o socialismo hoje em dia? Será um modelo à moda de Cuba ou da Coréia do Norte? Acho que não. Não com o mesmo isolamento. Vai criar — já criou, de fato — um sistema autoritário na política, do qual dependerá o “bom” funcionamento da economia. Este “bom” quer dizer alguma normalidade, ainda que dentro da rigidez ditatorial. No caso da Venezuela, a estrovenga nasce sob o signo do tal “movimento bolivariano”, mas tem uma marca pessoal muito forte. A esquerda brasileira que conta, o PT, é um pouco mais cuidadosa. Não há lugar, por aqui, para alguém com as mesmas características do ditador venezuelano, mas nem por isso as tentações são menores. Ao contrário: a disputa na Câmara é um exemplo de como a política institucional é refém das estratégias petistas, sem um outro pólo ativo o bastante para dar uma resposta de permanente confrontação. Ao menos por enquanto.

Assim como não se apostava num Chávez ditador, e ele está aí, chamam de exagero a possibilidade de um petismo antidemocrático — pela via, claro, democrática. E, no entanto, o risco está aí.


Chávez e o Brasil 2 - Por que será?
Por que será que o PT quer tanto a Presidência da Câmara, não lhe bastando um fiel escudeiro, comunista do Brasil? Vai saber... Uma coisa é certa e já foi dita: o partido não aceita ser mais um, ainda que o principal, da base de Lula. Estará certamente de olho na consolidação de lideranças que possam, se preciso, substituir o Babalorixá no que, na pior das hipóteses (para eles), seria só um interregno 2011-2014. — quando o homem, sedento de trabalho, tentará voltar, então com meros 68 anos. Mas eu aposto alguns tostões: há alguém da “base aliada”, de preferência de algum partido considerado “de direita”, com uma emenda Lula 3.


Lula, o nosso De Gaulle
Disse De Gaulle que o primeiro dever de um estadista é a ingratidão. Por esse exclusivo critério, Lula é um estadista, não é mesmo, Aldo Rebelo?

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