10 fevereiro 2007
MARTA SUPLICY
Marta é só o petismo que veste Prada
Reinaldo Azevedo
Havia um tempo em que o máximo de reflexão a que Marta Suplicy se permitia eram rasgos poéticos como: “Não importa o tamanho da varinha, mas a mágica que ela faz”, o que, diga-se de resto, nem mesmo é matéria consensual, if you know... Há muitas moças que dizem não ser bem assim. Esse diminutivo, “varinha”, ofende a condição masculina, rá, rá, rá. Hoje em dia, a sexóloga se transformou em politicóloga. E debate questões muito profundas, como os destinos das democracias contemporâneas. E não me acusem de machista. Até hoje, o meu político britânico preferido, depois de Churchill, é mulher. Vocês sabem quem é. Condoleezza Rice é outra mulher de primeiro time. Até a democrata meio doidivanas Hillary Clinton tem o meu respeito. No episódio daquela moça que cospe em vestidos e não os lava depois, ela se comportou de uma forma altaneira. Eleanor Roosevelt podia ter lá suas infelicidades, mas também estava no degrau de cima. Já disse: sou mulherista e um tanto tradicionalista: sou casado com mulher e tenho duas filhas. Até os bichos aqui de casa são mocinhas — quer dizer, não sei a tartaruga: uma das meninas a batizou “Avril”; “a Avril” (pronuncia-se qualquer coisa entre “Êivril” e “Évril”, por favor, ou ela não atende...).Dona Marta está na Bahia, onde o PT realiza um encontro. Seu grupo, que ela nega existir como tal, é autor de uma proposta que concede ao presidente da República o poder de convocar plebiscitos sem necessidade de prévia autorização do Congresso. Dona Marta, pelo visto, está disposta a cutucar a democracia — ou o monstro do autoritarismo, a depender da leitura — com vara curta. Em vez de mágica, pode é rolar uma feitiçaria. Ela nega, evidentemente, que tal proposta daria a Lula o poder de, por exemplo, propor um plebiscito sobre se deve ou não disputar um terceiro mandato. O que é isso, madame? Daremos ao presidente o poder de decidir que plebiscito fazer, mas diremos: “Menos sobre isto, hein, Lula. O resto pode”.Segundo a nossa teórica da política com vara curta, as democracias modernas todas têm mecanismos de consulta popular. É verdade: mas nenhuma por vontade exclusiva do supremo mandatário, minha senhora. A exceção seria a Venezuela. “Seria”, já que a Venezuela não é uma “democracia moderna”, e sim uma ditadura atrasada.Marta vai além: “O que se pensou foi na resolução de grandes questões, difíceis de serem resolvidas e que precisam ter respaldo mais amplo, como foi o caso do referendo sobre as armas". É mesmo? H. L. Mencken nesta senhora: para cada problema complexo, há sempre uma solução fácil, clara e errada. Ademais, o referendo das armas passou, sim, pelo Congresso, madame.Ela tem razão numa coisa: o tal grupo que anda a pensar essas barbaridades não é, com efeito, “o grupo de Marta”. Ela não tem formação política nem alcance teórico para saber o que querem esses patriotas. A ex-prefeita é só um nomão que “lava” um grupo de “pensadores” bem mais obscuros. E perigosos. Candido Vaccarezza, por exemplo, tem pouco de Voltaire e muito de Beria, o chefe da polícia e braço direito de Stálin.
Marta é só o petismo que veste Prada.
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