17 fevereiro 2007

LULA, PT E A EDUCAÇÃO

Lula e PT tratam a Educação com falta de educação
Josias de Souza

Lula já chegou ao Planalto, em janeiro de 2003, decidido a dividir o governo em duas partes: uma “séria” e outra nem tanto. Nada diferente do que haviam feito seus antecessores. O naco bandalho da administração seria negociado no baixo mercado da política.

Aos exemplos: no Banco Central, acomodou-se Henrique Meirelles, um ex-banqueiro milionário. Acabara de eleger-se deputado pelo PSDB de Goiás. Mas era o técnico que Lula procurava para informar ao mercado que a economia seria tratada com “seriedade”. Para a Agricultura, foi o agro-negociante Roberto Rodrigues. Para o Desenvolvimento Industrial, o capitalista Luiz Fernando Furlan.

Pode-se gostar ou não do trabalho de Meirelles, Rodrigues e Furlan. Mas é forçoso reconhecer que não foi sob nenhum deles que brotaram os escândalos do primeiro reinado. As encrencas nasceram do pedaço de governo servido aos lobos da fisiologia. O mensalão veio à luz como um revide de Roberto Jefferson à acusação de que o PTB montara nos Correios uma usina de propinas. Puxando-se a meada, chegou-se ao grão-petismo e às legendas valerianas.

Às voltas com a montagem do time do segundo reinado, Lula está na bica de tomar uma dessas decisões reveladoras do caráter de um governo. Envolve o ministério da Educação que, no gogó, é prioritário. Mede-se o tamanho da prioridade pela quantidade de ministros. Sob Lula, já foram três. Cristovam Buarque foi demitido pelo telefone. Tarso Genro trocou a pasta por uma interinidade na presidência do PT pós-delubiano. Fernando Haddad, o atual ministro, encontra-se na porta do microondas.

No cargo desde julho de 2005, Haddad tornou-se um dodói de Lula. No final do ano passado, discursando para uma platéia de educadores, o presidente deixou escapar que a presença dele na equipe do segundo reinado era pule de dez. Até que, há cerca de 20 dias, a Educação desceu ao balcão. O que fazer com Marta Suplicy? A pergunta deixou Lula embatucado. Ministra das Cidades? Impossível. O cargo era do PP. Conversa daqui, conchava dali, o PT mirou a cadeira de Haddad. E Lula tratou do assunto a sério. Haddad passou a exalar um incômodo cheiro de queimado.

O curioso é que, em privado, Lula se que Marta fará de Brasília um trampolim para a eleição municipal de 2008. Mais curioso ainda é que o presidente está tomado de amores por um pacote educacional que Haddad acabou de formular. Ora, se é assim, por que mudar? Entregando a Educação a Marta, Lula mandará ao lixo um dos motes da campanha reeleitoral: “Não troque o certo pelo duvidoso.” Virará entulho também o lero-lero de que a Educação-companheira é coisa séria.

Haddad, um filiado do PT, não merecia ser tratado com tamanha falta de educação. Assim fica fácil entender por que o Saeb e o Enem revelaram que, de cada cem brasileiros de 15 a 20 anos, pelo menos cinco freqüentam o mundo dos iletrados.

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