06 fevereiro 2007

Lafer reforça críticas a política exterior de Lula

Flávio Freire, O Globo

O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, não só endossou as críticas feitas pelo ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Roberto Abdenur, ao Itamaraty, como jogou mais lenha na fogueira. Lafer disse que, na gestão de Lula, a carreira de diplomata foi politizada e o critério de seleção tem sido de entusiasmo e adesão ao governo.

Em gênero, número e grau, Lafer concorda com as críticas de Abdenur de que a promoção de diplomatas obedece afinidade política, a condução da política externa do Itamaraty atesta um "antia-americanismo atrasado" e a incorporação da Venezuela ao Mercosul foi um erro.

A carreira no Itamaraty sempre foi baseada em concurso e na qualificação do diplomata. Hoje há uma politização da carreira, que obedece a critérios de entusiasmo e adesão ao governo - disse Lafer, que concorda ainda com a tese de que o Ministério das Relações Exteriores aplica uma doutrina ideológica ao estabelecer uma bibliografia básica para alinhar todo o pensamento de quem atua no setor.

A exigência de leituras obrigatórias mostra o esforço do Itamaraty por um pensamento unificado. Esse é um dado que diminui a capacidade do Itamaraty de ser
eficiente na sua posição de Estado. Fica só com uma posição de governo - diz Lafer, ex-ministro das Relações Exterior no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Depois de lembrar da trajetória de Abdenur (que exerceu o cargo de embaixador do Brasil em Viena, Alemanha, China e Equador, por exemplo), o ex-ministro disse que o colega "não está fazendo comentários sem conhecimento de causa".
Seguindo a mesma linha de raciocínio do ex-embaixador em relação ao que ele classificou de "antiamericanismo atrasado", Lafer levantou como um dos exemplos para ilustrar tal tese a defesa do Brasil de incorporar a Venezuela, sem negociação prévia, ao Mercosul.

O Chavez, com as suas posições, construiu os Estados Unidos como um inimigo. E ele orienta por aí a sua política externa, inclusive com alianças estranhas, como a que fez com o Irã. O Brasil, ao defender a incorporação da Venezuela ao Mercosul, coloca a identidade do bloco à prova. Para Chavéz, o que interessa é conflito, justamente o que não é interessante para o Brasil.
Lafer também concorda com a tese de que o país tem dado muito ênfase nas relações Sul-Sul, assim como criticou Abdenur.

A relação Sul-Sul tem a sua importância, o Brasil é pluralista, mas não devemos deixar de dar importância devida a países da Europa e Estados Unidos - disse ele, lembrando, por exemplo, que os estados Unidos podem ser um dos principais pólos importadores do etanol brasileiro, que encontra barreiras em outros países, como a França.

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