20 dezembro 2006

PELA PRIMEIRA VEZ, BRASIL INVESTE NO EXTERIOR MAIS DO QUE RECEBE NO PAÍS

Reinaldo Azevedo

Mais uma da "estagnabilidade": Brasil mais investe no exterior do que recebe investimentos estrangeiros
Não há nada de errado no fato de empresas brasileiras investirem no exterior. Na economia globalizada é assim mesmo. O problema está no fato de os estrangeiros investirem tão pouco no Brasil. Um país emergente — que precisa crescer e gerar empregos — que mais investe fora do que recebe investimentos de fora está condenado. É mais uma delicadeza do modelo consagrado por Lula, que batizei de “estagnabilidade”, a estabilidade da estagnação.

Por Fernando Dantas no Estadão desta quarta:
Pela primeira vez, Brasil investe no exterior mais do que recebe no País
Projeções indicam investimentos de US$ 26 bi este ano; movimento reflete internacionalização de empresas

Em 2006, pela primeira vez na história, os investimentos diretos do Brasil no exterior, impulsionados pela internacionalização das operações de grandes empresas brasileiras, serão maiores que os investimentos diretos estrangeiros no País. As projeções indicam que os investimentos estrangeiros devem fechar o ano em pouco mais de US$ 18 bilhões e os investimentos brasileiros no exterior, acima de US$ 26 bilhões.

A ultrapassagem dos investimentos estrangeiros no Brasil pelos investimentos brasileiros no exterior tem também um lado preocupante, já que reflete o maior apetite por investir fora do País por parte tanto de empresas nacionais quanto de estrangeiras. 'Infelizmente, as condições para investir na China, onde há um saldo líquido positivo de investimentos de US$ 50 bilhões, são melhores que no Brasil', comentou Tomás Málaga, economista-chefe do Itaú.

A reviravolta em 2006 deve-se, basicamente, à aquisição da mineradora canadense Inco pela Vale, por US$ 18 bilhões. Mas os dados do Produto Interno Bruto (PIB) em valores do terceiro trimestre, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deixam claro que o movimento reflete tendência bem mais generalizada de internacionalização de empresas brasileiras como Vale, Petrobrás, Gerdau e Odebrecht, entre outras.

Os números do IBGE vão só até setembro e não incluem a compra da Inco, fechada em outubro e liquidada em novembro. De janeiro a setembro de 2006, os investimentos diretos do Brasil no exterior somaram US$ 7,8 bilhões, um avanço de 226% em relação aos US$ 2,4 bilhões investidos pelas empresas brasileiras fora do País no mesmo período de 2005.

Já os investimentos estrangeiros no Brasil atingiram US$ 11,9 bilhões de janeiro a setembro de 2006, apenas 2,1% acima dos US$ 11,7 bilhões de igual período de 2005. No fechamento do ano, porém, os investimentos estrangeiros no Brasil devem ter desempenho um pouco melhor, saindo de US$ 15 bilhões em 2005 para US$ 18 bilhões, um crescimento de 20%.Os investimentos brasileiros no exterior envolvendo operações de capital cresceram 188% entre o terceiro trimestre de 2005 e o mesmo período de 2006 (de R$ 1,7 bilhão para R$ 4,9 bilhões), de acordo com o IBGE. Já os empréstimos intercompanhia, entre a sede nacional de empresas brasileiras e suas filiais no exterior, cresceram 385 vezes na mesma base de comparação (de R$ 8,3 milhões para R$ 3,2 bilhões).

Segundo a assessoria de Comunicação da Petrobrás, os investimentos em atividades no exterior da estatal totalizaram R$ 3,9 bilhões de janeiro a setembro, um aumento de 110% ante o mesmo período de 2005. No terceiro trimestre, foi concluída, por intermédio da subsidiária Petrobrás América Inc, a aquisição de 50% da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, da Astra Oil Company, empresa de um grupo belga. O investimento final foi de US$ 360 milhões.

A capacidade de financiamento (equivalente ao saldo em conta corrente) no País atingiu o recorde para um terceiro trimestre neste ano, chegando a R$ 16,2 bilhões. No terceiro trimestre do ano passado, havia sido de R$ 13,4 bilhões.

A principal novidade é que, pela primeira vez, o crescimento não está relacionado ao saldo externo de bens e serviços, mas à queda do endividamento externo e ao aumento dos juros sobre o capital financeiro no exterior.

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