20 dezembro 2006

INFLAÇÃO, CRESCIMENTO E IGUALDADE À LUZ DA ESTAGNABILIDADE

Reinaldo Azevedo

O mercado já aposta em 2,8% de crescimento para este ano; eu chuto 2,7%, e há especialistas respeitáveis que temem meros 2,5%. O Banco Central, vejam só, veio a púbico para falar em 3%, não mais os 3,5% de sua previsão anterior, na qual já ninguém acreditava. O país segue firme e crente no rumo da “estagnabilidade”, a estabilidade da estagnação, defendida com denodo pelo BC. O banco também faz uma previsão do crescimento para o ano que vem: 3,8% — já está avisando ao Babalorixá que não virão os 5%. Se são os rapazes do banco que estão dizendo, sinal de que eles próprios esperam menos. Gente boa crava apenas 2,8% para o ano que vem.

A inflação, no entanto, está uma beleza. Exibe a saúde das economias arrumadas, de Primeiro Mundo. O IPCA-15 encerra o ano em 2,96%, metade do índice do ano passado (5,88%). Os especialistas apontam o câmbio como o fator decisivo desse índice magro, com visível efeito na queda do preço dos alimentos. Inflação assim baixa em razão da valorização do real significa, com efeito, maior poder de compra para os salários mais baixos, o que garante o mercado eleitoral de Lula. A inflação da classe média — elevação dos preços de serviços — não é percebida pelo povão. Ulalá!

É a estabilidade atingida num regime de baixo crescimento econômico. Temos pororoca, jabuticaba e, quem diria?, a primeira estagnação econômica popular do mundo. O BC está feliz e demonstra que é assim mesmo. A meta de inflação para este ano era de 4,5% — com margem de 2 pontos para mais ou para menos. O IPC deve ficar em 3% . O banco demonstra que a maioria dos países que adotam regime de metas fica abaixo do teto. Muito bom. Sobre como esses países lidam com crescimento, nada se disse.

O Brasil caminha para ser uma palhoça orgulhosa de seus indicadores de responsabilidade econômica. Vejam, por exemplo, nota nesta página sobre os pífios investimentos estrangeiros no país. Mas, como se sabe, nunca antes se viu coisa igual... Segundo o IBGE, o rendimento do trabalhador teve uma queda de 12,7% entre 1995 e 2005. Em todos os níveis de escolaridade. A gente consegue desmoralizar até a educação.

Mas, como estamos sob a égide da estagnabilidade, na estagnação tornada popular por causa da estabilidade, a igualdade aumentou. Em 95, o rendimento dos 10% mais ricos era 21,2 vezes maior que o rendimento dos 40% mais pobres. Agora, é 15,8 vezes. Como o rendimento caiu, conclui-se que os que ganhavam mais passaram a ganhar menos, mas o que ganhavam menos não passaram a ganhar mais. O Brasil ficou mais igual porque os mais ricos ficaram mais pobres sem que os mais pobres tenham ficado mais ricos.

Obra de gênios! Lula inventou a estagnação de resultados.

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