11 dezembro 2006

CLASSE MÉDIA EM APUROS

Fernando Canzian

Em terra ou no ar, a classe média brasileira vai mal.

Enquanto seus aviões não decolam ou atrasam, a situação aqui embaixo, no mercado de trabalho, tem sido a pior possível.

Nos últimos seis anos, foram criados mais de 8 milhões de empregos formais para a parcela mais pobre da população, as pessoas que ganham até três salários mínimos (R$ 1.050). O rendimento desse pessoal subiu mais de 45% acima da inflação.

Para os que estão acima desse patamar, onde começa a classe média, a situação é trágica: 2 milhões de vagas a menos e queda de mais de 46% nos rendimentos.

Não é à toa que filhos da classe média recém-saídos de boas universidades encontram, quando muito, salários medíocres ao chegar ao mercado de trabalho.

Esses opostos também explicam o mau humor da classe média com Lula e as razões da vitória do presidente por uma margem de 20 milhões de votos concentrada no estrato mais pobre da população.

Nos últimos quatro anos, o governo assistencialista e pró-pobre de Lula foi principalmente na direção de quem não tem problemas com o Cindacta de Brasília ou panes em radares. Mas com atrasos sistemáticos em linhas de ônibus populares e assaltos em trens de periferia abarrotados de gente --sem que a mídia faça todo o escarcéu atual.

Se Lula de fato tem e quer "sua força no povo", seu governo parece coerente com os resultados que apresenta no mercado de trabalho. Esse, no entanto, é apenas um lado da questão.

Dificilmente um país cresce de forma robusta se não tiver uma classe média ascendente em número de participantes e salários.

Enquanto a classe média brasileira representa pouco mais de 30% da população, ela é responsável por mais de 50% de todo o consumo, principalmente de produtos com maior valor agregado (mais sofisticados), que são os que puxam o desenvolvimento da indústria e dos serviços que pagam melhores salários.

Ao lado do maior vilão, o juro alto, o achatamento da classe média nos últimos anos explica, em boa medida, as taxas de crescimento medíocres que o Brasil vem apresentando. Também dá boas pistas de onde o governo vem tirando grande parte do dinheiro para financiar o assistencialismo aos mais pobres via Previdência e programas como o Bolsa Família.

Cerca de 60% do Imposto de Renda das pessoas físicas sai de quem ganha entre R$ 3.000 e R$ 10.000, onde, em termos tributários, se situa a classe média. É esse pessoal que arcou, via IR e impostos sobre o consumo, o grosso do aumento de mais de dez pontos percentuais na carga tributária do governo FHC para cá.

A análise recente do mercado de trabalho mostra que o país continua em uma clara transição. Ela é inclusiva do ponto de vista dos empregos baratos e da distribuição da renda, mas de sustentabilidade extremamente duvidosa.

Nenhum comentário: