Editorial da Folha de S. Paulo
Quase a metade dos desempregados (46,6%) têm entre 15 e 24 anos de idade; é preciso investir mais em ensino técnico
A economia brasileira caminha para completar cinco anos de crescimento ininterrupto. Esse crescimento, embora oscilante e de ritmo moderado, vem se traduzindo, conforme seria de esperar, numa melhora progressiva do mercado de trabalho em geral. Para a população jovem, no entanto, a melhora tem sido muito menos pronunciada.Conforme recente estudo do IPEA apurou que o desemprego chega a 19% entre os jovens de 15 a 24 anos de idade. Essa proporção é 3,5 vezes aquela observada entre os adultos, e o descompasso vem aumentando (em 1995 a taxa de desocupação dos jovens não chegava ao triplo da dos adultos).
Como conseqüência, a participação dos jovens no universo dos desempregados eleva-se. O referido estudo (que se baseia em informações relativas a 2005) aponta que quase metade dos desempregados (46,6%) têm entre 15 e 24 anos de idade. Esta foi a proporção mais alta apurada num conjunto de dez países examinado pelo IPEA.
Preocupa constatar que, ademais, o aumento da participação dos jovens no contingente dos desempregados brasileiros não está ligado a um aumento do seu peso no universo dos brasileiros em idade de trabalhar (ou seja, com 10 ou mais anos de idade). De fato, a influência da demografia tem sido a oposta: a participação dos jovens na população em idade ativa (PIA) vem caindo rapidamente. Em março de 2002 as pessoas com 15 a 24 anos respondiam por 22,9% da PIA, proporção que recuou para 19,4% em março deste ano.
O problema reside mesmo, portanto, na grande dificuldade que os jovens ainda enfrentam para encontrar um emprego, assim como para preservá-lo. A necessidade de política públicas específicas voltadas a minorar o problema é evidente.
A criação de programas governamentais com esse propósito tem sido pródiga; já os resultados, pífios. O exemplo mais eloqüente foi o Primeiro Emprego, lançado com estardalhaço pelo governo federal em 2003 e abandonado em 2007, depois de redundar na criação de 15 mil postos de trabalho para jovens, o correspondente a irrisórios 3% de sua meta.
Dentre as várias causas do alto desemprego entre os jovens brasileiros, a falta de qualificação profissional é reconhecidamente uma das mais importantes. Mas os cursos públicos de educação profissional técnica, elogiados por sua qualidade, continuam a padecer de uma deficiência grave. Segundo estimativa do Ministério da Educação, citadas no estudo do IPEA, a oferta de vagas atende a apenas 11% da demanda potencial.
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