15 junho 2008

A DEBILIDADE DAS FARC

Editorial da Folha de S. Paulo

A morte do líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Manuel Marulanda, cognominado Tirofijo, abre a perspectiva de uma solução para o conflito que, há mais de 40 anos, opõe a narcoguerrilha ao Estado colombiano.
As Farc nunca estiveram tão debilitadas. Surtiu efeitos a intensa ofensiva militar sustentada pelo governo do presidente Álvaro Uribe sobre o grupo rebelde desde 2002. Estima-se que o contingente de guerrilheiros, que chegou a 16.000 em 2001, tenha sido reduzido para no máximo 8.000. Só no ano passado, a milícia sofreu 2.400 defecções.
À exaustão militar sobrepõe-se uma crise de lideranças. As Farc perderam recentemente, além de Marulanda, dois de seus dirigentes: Raúl Reyes, morto numa incursão do Exército colombiano em território equatoriano, e Iván Ríos, assassinado por seus próprios homens.
A sucessão de Marulanda também inspira cauteloso otimismo. Foi designado para substituí-lo Alfonso Cano, da ala política do grupo, que se opõe à facção militarista, em princípio refratária a negociações com o governo.
Resta esperar que Uribe aproveite essa rara oportunidade. Até aqui seu governo fez o que tinha de fazer. Após o colapso das negociações de paz sob a gestão Andrés Pastrana (1998-2002), que fracassaram por culpa da guerrilha, o então recém-eleito Uribe colocou corretamente a ênfase na repressão.
A vitória militar foi impressionante. Em 2002, o grupo -que há muito tempo abandonou o golpismo marxista para tornar-se um cartel ligado ao narcotráfico e à indústria dos seqüestros- controlava 40% do território colombiano. Hoje seus membros refugiam-se nos grotões do país e em território estrangeiro.
A opção pelo confronto, adotada por Uribe, é aprovada pela esmagadora maioria dos colombianos, que o reelegeu para o cargo e sustenta sua popularidade em patamares elevados.
Se souber tirar proveito dessa conjuntura, o presidente da Colômbia poderá arrancar dos guerrilheiros uma rendição próxima de incondicional. Com isso, Uribe pouparia os colombianos de mais alguns anos de combates e passaria à história como o homem que pôs fim a mais de 40 anos de guerra civil.

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