10 setembro 2006

PODEM ATIRAR. UI! AI! *

Eu não era o Oráculo de Ipanema? Como pude errar tanto assim? Em novembro de 2004, vaticinei que Geraldo Alckmin seria eleito presidente no lugar de Lula. Cito-me:

Lula vai perder em 2006 porque o PT será identificado como o partido que desvia verbas para financiar campanhas eleitorais. Que persegue a imprensa. Que segue a tradição coronelista de distribuir esmolas em troca de votos. Que compra o apoio de outros partidos com malas cheias de dinheiro. Que se alia desavergonhadamente a políticos que sempre combateu. Que dá carta branca a seu tesoureiro em reuniões ministeriais. Que protege os amigos do presidente.

Repito: novembro de 2004. Muito antes do mensalão. Muito antes de Roberto Jefferson. Na ocasião, ninguém acreditou em minha profecia. O que se sabe agora é que não era mesmo para acreditar. Lula está lá na frente. Geraldo Alckmin está lá atrás. O Oráculo de Ipanema revelou-se uma fraude. Mais um charlatão tentando se aproveitar da credulidade popular. No ano passado, quando Lula parecia morto, cobri-me de glória. Os devotos vinham depositar oferendas na porta de casa. O tempo passou e o falso profeta foi desmascarado. Chegou a hora das pedradas. Podem atirar. Eu fico parado. Ui! Ai!

O segundo mandato de Lula será uma chatice. Já estou me preparando para o pior. Os lulistas querem comprar a imprensa. É o método deles. Compram tudo. Compram jornalistas, compram deputados, compram nordestinos pobres. Quem não quiser o dinheiro deles terá de se arranjar. No caso da imprensa, o ataque será indireto, por meio dos tribunais. Nesse ponto, sou uma espécie de cobaia dos lulistas. Nos últimos anos, eles apresentaram um monte de denúncias contra mim. Perdi a conta de quantas elas são. Mais de 100. A mais extravagante de todas é a dos acreanos. Meses atrás, no Manhattan Connection, comentando a frase de Evo Morales de que a Bolívia havia cedido o Acre em troca de um cavalo, respondi ironicamente que aceitaria o cavalo de volta. Uma deputada federal do PCdoB, Perpétua Almeida, mandou os funcionários de seu gabinete recolher assinaturas de acreanos dispostos a me processar. Oitenta e tantos apareceram. O resultado é que tenho oitenta e tantos processos individuais num tribunal do Acre. É como se os moradores de Pelotas processassem Lula por seu comentário ofensivo sobre a cidade. Processem-no, pelotenses.

Muita gente me considera a versão barata de Paulo Francis. Ele enfrentou um processo de 100 milhões de dólares da Petrobras. Eu enfrento processos de 7 000 reais de oitenta e tantos acreanos. Perpétua Almeida é minha Petrobras. Dei uma olhada nos projetos de lei de sua autoria. Um deles obriga todos os órgãos federais a comprar e a expor obras de artistas nacionais. Outro estende a Voz do Brasil para a televisão. Eu sou a versão barata de Paulo Francis. O lulismo é a versão barata do que a gente queria para o país.

Diogo Mainardi, na Veja desta semana

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