05 novembro 2006

BAGAÇO DE CANA BARATEIA CUSTO DO CIMENTO

Débora Alves

Resíduos da indústria e da agroindústria podem servir de matéria-prima para a fabricação de cimento. As cinzas do bagaço da cana-de-açúcar, da casca do arroz, as raspas de borracha de pneus e a escória da indústria siderúrgica podem ser adicionadas à massa de concreto, proporcionando economia de até 30% no volume de cimento utilizado na obra.

Pesquisas realizadas pela equipe de engenharia da Uniderp, em Campo Grande, coordenadas pelo professor e engenheiro civil Sidiclei Formagini, testaram as cinzas do bagaço da cana-de-açúcar e comprovaram que a adição de 20% a 30% ao cimento aumenta a resistência do concreto e a capacidade de carga em 15%. "É como se na construção de um edifício de 10 pavimentos – utilizando-se o resíduo da cana-de-açúcar – pudéssemos construir um pavimento a mais mantendo o mesmo consumo de aço e de concreto", exemplifica o professor.

Para que as cinzas do bagaço da cana-de-açúcar sejam incorporadas ao cimento é preciso que a moagem da cana e a queima do bagaço sejam controladas a uma temperatura média de 600º C. De acordo com Formagini, a pesquisa conta com a parceria da Universidade Federal do Rio de Janeiro e é inédita na sociedade científica internacional.

Formagini está aplicando as pesquisas na construção da própria residência. O engenheiro civil trocou a cal pela escória da indústria siderúrgica. O material é produzido a partir dos resíduos da produção de ferro-gusa. Para provar que a técnica é eficiente e derrubar o mito de que a escória é corrosiva, ele mistura 1/3 de escória ao cimento para fazer a estrutura da casa e assentar os tijolos.

O mestre de obras Diomir Lazarotto, que trabalha na construção de Formagini, ficou surpreso com a novidade, mas seguiu à risca as orientações do engenheiro. Depois de fazer a fundida da casa, erguer um muro e quatro paredes, ele comprovou a resistência e a durabilidade do concreto. "Funciona mesmo. A massa demora mais tempo para secar, mas fica dura e firme. Para quebrar o concreto seco é muito mais difícil", explica Lazarotto.

Depois de aplicada na construção a diferença da nova mistura é o tempo de secagem. A hidratação da escória é mais lenta, por isso a massa demora duas horas a mais para secar do que o cimento comum. O que para a construção civil é um fator positivo, explica Formagini, "a contração do concreto acontece com menos intensidade, o que diminui o risco das grandes construções trincarem".

A escória usada na obra vem de Ribas do Rio Pardo, município a 110 km de Campo Grande. As sobras da produção de ferro-gusa são trituradas até que fiquem finas como pó e o resultado é a escória. Em contato com a água, o material tem a mesma atividade pozolânica do cimento (endurece depois do contato com água).

Meio Ambiente

O Brasil produz 36,7 milhões de toneladas de cimento por ano. A indústria do cimento é considerada uma das mais poluidoras. De acordo com o Anuário Mineral Brasileiro, no ano passado, durante a produção de cimento foram emitidos 23,9 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera. O CO² é o gás responsável pelo efeito estufa e pelo aquecimento da terra.

Na última safra de cana-de-açúcar 2005/2006, Mato Grosso do Sul produziu 67 mil toneladas de cinzas do bagaço que vão direto para os tanques de decantação. Parte do material é utilizada na lavoura e o restante jogado nos rios. A utilização destes resíduos pela indústria de cimento evitaria que pelo menos 127 mil toneladas de gás carbônico fossem lançadas na natureza e a cada 35 milhões de toneladas de ferro-gusa produzidas pela indústria siderúrgica sobram 12 milhões de toneladas de resíduos que não são utilizados.

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