Estudo aponta interesse de grupos alimentícios em comprar terras em troca de investimentos
Gilberto Scofield Jr.
Países com alto consumo de alimentos e poucas condições de plantá-los em seus territórios, como os árabes, China, Coreia do Sul e Japão, se lançaram em uma das maiores ondas de compra e investimento em terras agricultáveis no mundo. Os principais alvos são países emergentes ou pobres da África, Ásia e América Latina. O fenômeno foi estudado pelo Instituto de Pesquisas sobre Políticas Internacionais de Alimentos (IFPRI, da sigla em inglês), que alerta: por ter grandes áreas agricultáveis, o Brasil é alvo preferencial de grandes grupos alimentícios e governos em busca de produção de alimentos em troca de investimentos em infra-estrutura ou tecnologia.
O estudo, intitulado "Apropriação de terra por investidores em países em desenvolvimento: riscos e oportunidades", aponta o Brasil como país "vendedor de terras" e destaca dois negócios: a venda para o grupo japonês Mitsui de mil quilômetros quadrados para plantação e exportação de soja e o negócio de US$370 milhões que está sendo fechado pelo grupo brasileiro Cosan e um sócio americano na compra de terras para plantação de cana de açúcar e produção de etanol. Além disso, lembra o diretor da Coalização Internacional da Terra (que reúne institutos de pesquisa e outras ONGs ligadas à questão alimentícia), Michael Taylor, governos do Centro-Oeste negociam com grupos chineses a venda de terras para produção e exportação de soja.
- Antes, a compra e venda era feita entre grupos privados donos da terra e multinacionais de alimentos. Agora, a onda inclui governos vendendo diretamente a compradores internacionais, que muitas vezes compram terras com o único propósito de exportar o alimento de volta a seu país - diz Taylor.
O estudo cita a Arábia Saudita, que investiu US$100 milhões na Etiópia alugando terras para produção de trigo e arroz e ganhando em troca incentivos fiscais e a permissão para exportar a produção. Tudo seria um exemplo de bom negócio se a Etiópia não fosse um país com fome.