06 setembro 2009

ALIANÇA MILITAR

Brasil assina acordo de R$ 24 bilhões com a França

Destaque está na transferência de tecnologia para Marinha construir submarinos nuclearesQuando caças franceses cruzarem o céu de Brasília na segunda-feira, deixando um rastro de fumaça azul, vermelha e branca durante as comemorações do Dia da Pátria, o governo Lula estará celebrando a polêmica compra de tecnologia para um submarino nuclear brasileiro que há 15 anos encontra-se em estado vegetativo.

Concebido para renovar a sucateada frota da Marinha e proteger a riqueza subterrânea das megareservas nacionais de petróleo, o contrato com a França está orçado em R$ 24 bilhões e envolve ainda a aquisição de quatro submarinos convencionais, o casco de um submarino nuclear e 50 helicópteros militares.

O acordo será assinado segunda-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, que cumpre visita oficial ao país. Para viabilizar a aquisição do pacote bélico, o governo está contraindo um empréstimo de R$ 17 bilhões com bancos europeus. Serão R$ 12,1 bilhões para a construção do casco do primeiro submarino de propulsão nuclear brasileiro, além dos submarinos diesel-elétricos Scorpène. Outros R$ 5,1 bilhões serão usados na construção dos helicópteros de transporte EC-725.

A escolha da França como parceira militar causou desconfiança ao deputado Júlio Delgado (PSB-MG), uma das únicas vozes contrárias ao acordo no Congresso. Delgado considera o Scorpène defasado tecnologicamente em relação a similares alemães, como o IKL 214. A Marinha já possui cinco submarinos alemães e chegou a cogitar seguir a mesma linha antes de optar pelo Scorpène. De acordo com o deputado, países que já adquiriram submarinos franceses, como Índia e Paquistão, registraram problemas como infiltrações.

– Estamos pagando quase R$ 6 bilhões por um casco. A Marinha está tão sedenta para renovar sua frota que o que vier está bom, seja o preço que for – reclama o parlamentar.

Exploração do pré-sal aumenta necessidade de vigília do mar

Segundo o comando da Marinha, o valor pago aos franceses incorpora a transferência de tecnologia na construção do submarino nuclear, garantia que não foi fornecida pela Alemanha. No início de agosto, a empresa naval alemã HDW enviou uma carta ao Ministério da Defesa, assegurando ter obtido do governo germânico autorização para a transferência de tecnologia. Na ocasião, contudo, a negociação com a França estava praticamente finalizada.

– O acordo com a França vai representar um salto no programa brasileiro. Vai nos dar a oportunidade de dominarmos uma tecnologia que só outros cinco países já detem – defende um graduado oficial da Marinha, em referência à França, Rússia, China, Estados Unidos e Reino Unido.

A Marinha considera o programa prioritário, depois das descobertas na camada do pré-sal, o que poderia tornar o país alvo de sabotadores.

FÁBIO SCHAFFNER E KLÉCIO SANTOS | Brasília

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