19 janeiro 2008

AMEAÇA DE MORTE

ELIANE CANTANHÊDE

O serviço de inteligência da Polícia Federal identificou e abortou um plano engenhoso -e macabro - para matar um gerente do Ibama (órgão de fiscalização do Meio Ambiente) que vive às turras com madeireiros na região Norte.
O alvo era Roberto Scarpari, de Altamira (PA), que passava férias no Rio e foi retirado às pressas pela polícia. A intenção dos seus quase-algozes era simular um assalto à mão armada contra ele - um crime tão corriqueiro no Rio que dificilmente levantaria suspeitas.
Scarpari, que é desses que briga, grita e incomoda até mesmo o governo, ou melhor, os governos, foi um dos responsáveis, por exemplo, pela autuação da empresa Amazônia Projetos Ecológicos, que mantinha castanhais na área do Médio Xingu, entre Altamira e São Félix do Xingu (igualmente no Pará). Ela foi notificada para desocupar mais de um milhão de hectares e multada por queimada de áreas florestais.
Na autuação, foram apreendidas armas de caça ilegais. A PF, o Ibama e o Meio Ambiente não fizeram, ao menos publicamente, nenhuma relação de causa e efeito entre a operação contra a empresa e o plano de morte abortado. Mas a notificação foi em outubro de 2007. A viagem (de ida e volta, digamos assim) de Roberto Scarpari acaba de acontecer. Foi logo depois, portanto.
Essa história ocorre em meio a uma pergunta que não quer calar: afinal, até onde o desmatamento é responsável tanto pela migração de animais silvestres e de novas doenças para áreas urbanas quanto pela falta de chuvas que ameaça os reservatórios e, portanto, o fornecimento de energia?
Enquanto se desmata e se mata por lá, 20 anos depois do assassinato de Chico Mendes, já estão se sentindo os prováveis efeitos por toda a parte. Brasília está cheia de micos inesperados e vive praticamente sem chuvas no seu mês mais chuvoso do ano. Por que será, hein?

Nenhum comentário: