05 abril 2007

FIÉIS E INFIÉIS

CARLOS HEITOR CONY

A fidelidade partidária parece que desta vez emplaca. Está sendo saudada como a panacéia para acabar com um dos males da política nacional, o troca-troca de partidos de acordo com os interesses pessoais de cada eleito.

Os mandatos não mais seriam patrimônio pessoal dos deputados, senadores e vereadores, mas do partido. Quem não se sentisse confortável em determinada legenda, perderia a representação, dando vaga a um suplente da mesma agremiação.

Em tese, nada mais justo e democrático. O problema é que, apesar da pulverização das siglas, não dispomos realmente de partidos, embora todos eles tenham programas -que ninguém lê e que dificilmente são seguidos pelos seus membros. O PT seria uma exceção, pelo menos tentou ser uma exceção até bem pouco tempo. Seu fundador, o atual presidente da República, é o primeiro a violentar as mais importantes cláusulas do programa.

O antigo Partido Comunista Brasileiro também tinha um programa que era obedecido pelos seus membros. O mesmo acontecia com a finada Ação Integralista Brasileira. Ambos eram programáticos: votava-se primeiro na legenda, depois é que se pensava nos candidatos (nos tempos do integralismo, não havia eleição, mas, se houvesse, os militantes saberiam em que estavam votando).

Devolver os mandatos ao partido seria o ideal na prática política e eleitoral, mas a realidade é que, no Brasil, ninguém vota em partido. Vota em candidatos que, por isso ou aquilo, empolgam o eleitorado.

No momento, não me lembro a que partido pertence o deputado Clodovil. Teve excelente votação pessoal, os que nele votaram se lixaram para o partido que o abrigou. Digamos que Clodovil decida mudar de partido e perca o mandato. Como ficarão os eleitores que nele votaram?

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